
Pelas declarações proferidas pelo Presidente Roosevelt na Conferência de Casablanca (acima, em Janeiro de 1943), tinha-se tornado público que a Segunda Guerra Mundial só terminaria com a Rendição Incondicional da Alemanha. Por detrás dessa proclamação política, havia um outro plano sectorial, designado por Plano Morgenthau, o nome do responsável pela sua autoria e também Secretário do Tesouro da Administração norte-americana na altura, Henry Morgenthau Jr. (abaixo) Em síntese, tratava-se de um plano económico que previa a divisão da Alemanha pós-guerra em dois estados (Norte e Sul), despojados de algumas das suas zonas mineiras (Sarre e a Alta Silésia) e das suas indústrias pesadas.

Inicialmente, a política económica de ocupação dos norte-americanos alinhou-se com o que fora definido previamente com o Plano Morgenthau – a produção alemã de aço estava limitada a 25% do que fora antes da Guerra e a de veículos automóveis a 10%, por exemplo. A condução política global também era rigorosa, com os muito publicitados julgamentos dos mais altos responsáveis do III Reich em Nuremberga (1945-46) e a identificação e o respectivo sancionamento dos pequenos responsáveis através daquilo que se veio a baptizar por desnazificação. Tudo isso havia sido compilado num documento militar, que hoje costuma ser convenientemente esquecido, designado por JCS 1067**.

É já sob a égide destas novas directrizes políticas, muito mais conformes o espírito da Guerra-Fria que se avizinhava, com Lucius Clay (um oficial de engenharia) a comandar o contingente militar norte-americano estacionado na Alemanha (que Byrnes anunciara no seu discurso que iria permanecer indefinidamente na Europa…), que se vieram a dar aqueles episódios que são hoje muito celebrizados de cooperação, como o da ponte aérea de reabastecimento a Berlim (de Junho de 1948 a Maio de 1949). O clímax desta amizade entre alemães e norte-americanos será representado, muito provavelmente, pelo discurso de John F. Kennedy (abaixo), em 26 de Junho de 1963: Ich bin ein Berliner****.

A invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003 resultou, na sua globalidade, conte-se tanto a quantidade como a qualidade das opiniões que se escutam e lêem, num gigantesco fiasco. Este poste permitirá talvez, mas apenas para os que se disponham a fazê-lo, ao comparar as situações alemã e iraquiana de pós-guerra, perceber como há uma responsabilização política clara desta Administração norte-americana pela forma não só como iniciou aquela Guerra mas também como tem conduzido o processo que a ela se seguiu e pela situação para onde se deixou arrastar na actualidade – com o beneplácito do seu próprio eleitorado que a reelegeu em 2004, não nos esqueçamos…

* Para os menos entendidos nestas terminologias, um Exército é uma enorme unidade militar cujos efectivos atingem normalmente as centenas de milhar. Os vários milhões de soldados norte-americanos que estavam então (1944-45) na Europa distribuíam-se por aquele e por mais outros 5 Exércitos: 1º, 3º, 7º, 9º e 1º Aerotransportado.
** JCS é o acrónimo de Joint Chiefs of Staff, o órgão colegial mais importante do Pentágono e designa os documentos dele emanados. Mas a JCS 1067 foi assinada adicionalmente pelo Presidente Truman em 10 de Maio de 1945.
*** Os dicursos proferidos, respectivamente, por James F. Byrnes em Estugarda em 6 de Setembro de 1946 e por George C. Marshall na Universidade de Harvard em 5 de Junho de 1947. No mês seguinte a JCS 1067 foi substituída pela JCS 1779.
**** Eu sou berlinense.
Eis uma análise adequada para compreender os profundos (e surpreendentes) erros estratégicos cometidos pela actual Administração dos EUA, que, em boa hora, se está a despedir, mas, em má hora, ainda vai permanecer quase um ano em funções.
ResponderEliminarLS
Escreve quem sabe e lê quem quer saber.
ResponderEliminarbfs
Obrigado pelos vossos comentários.
ResponderEliminarExcelente paralelo que estabelece entre a atitude estratégica revelada pelos norte-americanos no rescaldo da II Guerra e a (não)revelada agora em relação ao Iraque.
ResponderEliminarSeguramente será mais um factor a contribuir para uma melhor compreensão do livro que tenho em mãos.
E estás constipada?
ResponderEliminarNão, já não. E este livro é do tipo de ler e procurar digerir lentamente. Provavelmente lerei outro menos exigente em simultâneo.
ResponderEliminarDe qualquer modo agradeço os cuidados que revelas com a minha saúde...