10 julho 2006

VAMOS AO QUE INTERESSA...

É, no mínimo, muito difícil compatibilizar a opinião repetidamente defendida por Paulo Gorjão que os problemas vividos em Timor só muito remotamente tinham a ver com os interesses australianos nos hidrocarbonetos timorenses, com o que se lê no artigo de hoje do The Australian onde, a pretexto de noticiar a posse do novo governo de Ramos Horta, o artigo define logo aquilo que considera a prioridade deste novo governo: a ratificação pelo parlamento timorense do acordo sobre a repartição dos rendimentos do gás natural, firmado em Sidney em Janeiro deste ano, a que a Fretilin (seria Mari Alkatiri?) estava a colocar extremas resistências à ratificação.

Eu bem sei que a franqueza e a frontalidade australianas, que nunca dá atenção alguma a essas minudências da sensibilidade e discrição, têm renome mundial, mas não teria sido possível à diplomacia australiana alertar a sua imprensa para que esta não criasse condições tão evidentes para que se pudesse concluir tão claramente que alguns analistas de política internacional de outros países tivessem andado a fazer uma triste e má figura ao rebater continuamente aquilo que afinal parecia ser óbvio?…

PS - Recomendo vivamente a leitura do artigo (em inglês). Mais uma vez, The Australian classificou um artigo a respeito de Timor-Leste na sua página nacional, mas desta vez é compreensível: por muito que o gás natural esteja no Mar de Timor, é natural que os australianos o considerem australiano...

8 comentários:

  1. Bravo! Mesmo na mouche.
    LS

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  2. Realmente, só não via quem não queria... ah, e claro, o Gorjão...

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  3. É claro que, a partir deste momento, a paz já se está a ver, a palpar!

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  4. Se lhes derem gás os rapazes vão longe!
    E Timor está mesmo ali à mão; tão à mão que está ao pé que os australianos andam a pedir no fundo das costas!!!

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  5. Vamos lá ver se percebo argumentação:
    Alkatiri tinha de ser demitido, na perspectiva dos australianos, para fazer aprovar no Parlamento um acordo que ele mesmo havia negociado e que, pelo que se percebe da notícia citada, em nada vai ser alterado? Um acordo que vai ser ratificado por um Parlamento em que a Fretilin tem e tinha a maioria e que Alkatiri controlava (e que Horta não controla)?

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  6. Prezado Anónimo das 2H43 AM:

    Eu vou tentar explicar-lhe o meu ponto de vista, desta vez em câmara lenta e com uma outra perspectiva – tomada do outro lado do estádio – como se fazia no recente Mundial 2006.

    Na perspectiva da Austrália, o tal acordo, carregado das virtudes que lhe atribui (e com as quais concordo), pelos vistos e a fazer fé no artigo do The Australian, tinha um defeito fundamental: faltava-lhe a ratificação da parte timorense. É essa a alteração que os australianos querem.

    E a coisa deve ser de importância e pressa suficiente para que o referido jornal o aborde desta forma, misturado logo com a notícia da tomada de posse do governo de Ramos Horta. É o que se chama rematar sem deixar a bola bater no chão…

    Quanto ao pormenor da ratificação vir a ser feita pelo mesmo Parlamento, deixe-me alertá-lo para que, sendo o Parlamento igual, os parlamentares podem estar muito diferentes agora, depois da demonstração de força que depôs Alkatiri. Nem imagina os prodígios que a presença de um contingente militar por perto produz na vontade de um Parlamento…

    Para ir só buscar um exemplo histórico, aflorado no meu post anterior: a mesma Assembleia Nacional francesa, paladina das liberdades democráticas que votou a declaração de Guerra à Alemanha em 1939, votou no ano seguinte e já com os alemães por perto, os poderes majestáticos conferidos ao Marechal Pétain…

    Se isso foi na democracia francesa, imagine o que pode acontecer com os membros de um Parlamento jovem como o timorense.

    Para a eventualidade provável de não o ter persuadido, deixe-me manifestar-lhe a minha simpatia, com a confissão que, também eu, ainda não me resignei a aceitar que o penalty de Ricardo Carvalho, que ocasionou o golo da França, o tivesse sido…

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  7. Exmo A. Teixeira,
    Era o penalty do R. Carvalho que me faltava ter em conta para melhor compreender o seu raciocínio.
    Peço desculpa por não me ter identificado no post das 2 e 43.
    Com os mais respeitosos cumprimentos,
    A. Silva

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  8. Prezado A. Silva:

    É sempre um prazer responder a afirmações categóricas seguidas de um ponto de interrogação, como fez no seu post anónimo das 2H43 AM. Mas, deixe-me dizer-lhe que o uso daqueles pontos de interrogação finais, só por ali os colocar, não serve para transformar em pergunta tudo aquilo que afirmou anteriormente.

    Para mais, depois de se ler o conteúdo do post e, sobretudo o do artigo do jornal, continuar a colocar a situação – afirmativamente, em falso modo interrogativo – nos modos em que o pôs tem muito de subjectividade de penalty. Por isso antecipei o fracasso da eficácia da minha argumentação. É que, na minha humilde opinião, a estes assuntos não se deve aplicar a subjectividade do penalty. Essa eu guardo exclusivamente para os penaltys…

    Desculpas aceites e retribuindo-lhe os mais respeitosos cumprimentos

    A.Teixeira

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