Max Boot (na imagem) costuma assinar regularmente uma coluna de opinião no Los Angeles Times. Embora discorde normalmente do posicionamento político subjacente aos artigos que escreve, aprecio muito a sua leitura. Costumo tratá-lo intimamente como o meu neo-con de estimação, devido a argúcia das suas análises.
E o problema para que ele alerta os poderes norte-americanos no seu último artigo de opinião é o do consumo de recursos das gigantescas cadeias de reabastecimentos que as forças armadas montaram no Iraque e no Afeganistão e que permitem o melhor dos bem estares possíveis às tropas no terreno – que lhe permitiram a ele beber um café com natas com café acabado de moer num rincão perdido do Iraque.
E o problema para que ele alerta os poderes norte-americanos no seu último artigo de opinião é o do consumo de recursos das gigantescas cadeias de reabastecimentos que as forças armadas montaram no Iraque e no Afeganistão e que permitem o melhor dos bem estares possíveis às tropas no terreno – que lhe permitiram a ele beber um café com natas com café acabado de moer num rincão perdido do Iraque.
Concordando com Max Boot completamente no diagnóstico do problema, só concordo parcialmente com ele no diagnóstico das suas causas. É verdades que os responsáveis pela logística no Pentágono são, historicamente, de uma eficácia poderosa. Já o eram no tempo do desembarque da Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial, com os seus depósitos colossais de material e consumíveis.
Continuavam eficazes vinte anos depois e absorviam já tanta gente na Guerra do Vietname, que Jean Lartéguy, no seu livro Um Milhão de Dólares cada Viet de 1965, chegou à conclusão que, considerando a totalidade das forças destacadas, apenas um soldado em sete tinha contacto directo com o inimigo. E o rácio dos custos totais quando dividido pelos insurrectos abatidos apontava para um valor próximo do que dava o título ao livro.
Claro que a análise de Lartéguy podia ser motivada pelo despeito de uma França que havia perdido duas guerras de contra-subversão seguidas – uma delas, naquele mesmo sítio. Mas neste caso é Max Boot – um norte-americano defensor da presença americana no Iraque – a apontar precisamente um tipo de lacunas muito semelhante às apontadas por Lartéguy, quarenta anos trás.
Mas se Max Boot, no seu artigo, atribui as culpas apenas ao êxito da inércia organizativa da logística do Pentágono, eu creio – e aqui está a minha concordância parcial – que, no caso especial desta guerra, ainda há o factor multiplicador do poder político, protagonizado pelo vice-presidente Dick Cheney, que se tem revelado um extremoso defensor dos interesses da sua companhia de origem, a Halliburton, uma vencedora rotineira dos concursos para abastecimento das forças americanas no Iraque.
Nos diversos artigos de Max Boot, sente-se a sua preocupação com a evolução dos acontecimentos, usando a lucidez das suas análises e a razoabilidade do que propõe para corrigir o que acha que está mal na presença americana no Iraque e no Afeganistão. Mas, parece-me que Boot se encontra numa situação a lembrar Vegécio, que foi um excelente pensador militar romano do século IV mas que, apesar da qualidade da sua obra, não conseguiu impedir a implosão do Império do Ocidente no século seguinte.
Uma nota final para o título deste post, cujo coeficiente foi calculado majorando e ajustando o de Lartéguy de há quarenta anos. De resto, se algo está adquirido das guerras de contra-subversão como estas que os norte-americanos – e a NATO – estão a travar, é que o número de viets ou de talibans abatidos (independentemente do custo por unidade abatida) é perfeitamente irrelevante para o seu resultado final.
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