Bacoco, no dicionário, é definido como um indivíduo ou designativo de algo pacóvio e/ou ingénuo. Interiormente, associei aquele adjectivo ao sinónimo de atitudes de admiração embevecida de acontecimentos vindos do estrangeiro, quando feitas sem qualquer verificação crítica.
Um exemplo de um acontecimento bacoco, por excelência, foi a convocatória para uma manifestação de desagravo da parte dos fãs de Michael Jackson por ocasião da sua prisão, pelas razões do costume (…), onde creio que compareceram mais jornalistas destacados para a cobertura do evento do que propriamente manifestantes…
O episódio bacoco do dia foi a publicação no Público de um extenso artigo intitulado O ataque preventivo do Irão, da autoria e expressando a opinião de Edward N. Luttwak, apresentado no rodapé como um estratego militar e membro do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington.
É preciosa a existência do subtítulo ressalvando que se trata da opinião de Luttwak, porque nos deparamos com uma narrativa e uma elaboração de acontecimentos não confirmados, apontando, como o próprio título indica, a que toda a manobra tivesse sido desencadeada a partir de Teerão, sendo Israel um mero agente reactivo.
Como introdução, Luttwak faz dos acontecimentos recentes, uma rejeição explicita por parte do Irão da oferta de acordo da Europa e dos Estados Unidos para o abandono dos programas de enriquecimento de urânio. De facto, os iranianos já haviam anunciado que dariam a sua resposta publicamente daqui a um mês (a 22 de Agosto, salvo erro).
Um exemplo de um acontecimento bacoco, por excelência, foi a convocatória para uma manifestação de desagravo da parte dos fãs de Michael Jackson por ocasião da sua prisão, pelas razões do costume (…), onde creio que compareceram mais jornalistas destacados para a cobertura do evento do que propriamente manifestantes…
O episódio bacoco do dia foi a publicação no Público de um extenso artigo intitulado O ataque preventivo do Irão, da autoria e expressando a opinião de Edward N. Luttwak, apresentado no rodapé como um estratego militar e membro do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington.
É preciosa a existência do subtítulo ressalvando que se trata da opinião de Luttwak, porque nos deparamos com uma narrativa e uma elaboração de acontecimentos não confirmados, apontando, como o próprio título indica, a que toda a manobra tivesse sido desencadeada a partir de Teerão, sendo Israel um mero agente reactivo.
Como introdução, Luttwak faz dos acontecimentos recentes, uma rejeição explicita por parte do Irão da oferta de acordo da Europa e dos Estados Unidos para o abandono dos programas de enriquecimento de urânio. De facto, os iranianos já haviam anunciado que dariam a sua resposta publicamente daqui a um mês (a 22 de Agosto, salvo erro).
É uma possibilidade, mas não passa disso. Há muitas outras interpretações possíveis para as causas dos acontecimentos. O resto do artigo está redigido da mesma forma, uma interpretação mais imaginativa e conspiratória dos acontecimentos que, como diz o professor José Hermano Saraiva, não é impossível que tivessem acontecido.
Mesmo assim, para que a história continue a fazer algum sentido há alguns factores mais desajustados, como a subordinação do Hamas – organização de forte cariz sunita – a uma estrutura tecida de cumplicidades políticas e religiosas entre xiitas, que acabam por ter de ser inseridos na narrativa de uma forma um pouco forçada e praticamente inexplicada.
Num outro exemplo mais adiante – escalpelizado aqui – a resistência à aceitação do Hezbollah pela sociedade libanesa enquanto partido armado é deduzida e assumida como um axioma, enquanto as sondagens de opinião efectuadas no Líbano desmentem claramente essa dedução.
Não é difícil adivinhar que no fim do artigo de opinião Israel apareça eximido de responsabilidades. A parte que considero mais bacoca de tudo isto é que, para efeitos de esclarecimento do leitor, não havia qualquer necessidade de ir buscar um artigo de opinião tão engajado, só pelo facto de ser assinado por um estrangeiro.
Deve haver em Portugal quem possa produzir artigos de opinião sobre o assunto melhores porque muito mais ponderados. Mesmo sem sair do jornal, ao lado do de Luttwak podia-se ler um outro, mais sóbrio, mais factual e mais equilibrado a propósito das incertezas da data de um cessar-fogo assinado por Jorge Almeida Fernandes…
A não ser que o propósito do famoso artigo de Luttwak fosse outro. Se for, já saiu atrasado porque julgo que a maioria das opiniões de quem se interessa pelo tema já está formada. O artigo de Luttwak, arrisca-se a só servir para a famosa citação de Groucho Marx: Afinal, em quem é que você acredita, em Luttwak ou nos seus próprios olhos?*
Mesmo assim, para que a história continue a fazer algum sentido há alguns factores mais desajustados, como a subordinação do Hamas – organização de forte cariz sunita – a uma estrutura tecida de cumplicidades políticas e religiosas entre xiitas, que acabam por ter de ser inseridos na narrativa de uma forma um pouco forçada e praticamente inexplicada.
Num outro exemplo mais adiante – escalpelizado aqui – a resistência à aceitação do Hezbollah pela sociedade libanesa enquanto partido armado é deduzida e assumida como um axioma, enquanto as sondagens de opinião efectuadas no Líbano desmentem claramente essa dedução.
Não é difícil adivinhar que no fim do artigo de opinião Israel apareça eximido de responsabilidades. A parte que considero mais bacoca de tudo isto é que, para efeitos de esclarecimento do leitor, não havia qualquer necessidade de ir buscar um artigo de opinião tão engajado, só pelo facto de ser assinado por um estrangeiro.
Deve haver em Portugal quem possa produzir artigos de opinião sobre o assunto melhores porque muito mais ponderados. Mesmo sem sair do jornal, ao lado do de Luttwak podia-se ler um outro, mais sóbrio, mais factual e mais equilibrado a propósito das incertezas da data de um cessar-fogo assinado por Jorge Almeida Fernandes…
A não ser que o propósito do famoso artigo de Luttwak fosse outro. Se for, já saiu atrasado porque julgo que a maioria das opiniões de quem se interessa pelo tema já está formada. O artigo de Luttwak, arrisca-se a só servir para a famosa citação de Groucho Marx: Afinal, em quem é que você acredita, em Luttwak ou nos seus próprios olhos?*
Nota: O artigo não está disponível na net.
* Na cena original, Groucho Marx, apanhado numa mentira flagrante não se desmancha e interpela a sua opositora: Afinal em quem é que você acredita, em mim ou nos seus próprios olhos?
Público - "A Voz de Tel Aviv" (e não só nos artigos da imparcialíssima Esther Munckzik...).
ResponderEliminarMais abrangente do que o Público em si, creio que, além de ter tomado a iniciativa no terreno de combate, Israel assumiu claramente a iniciativa de uma campanha mediática mundial justificativa das suas acções.
ResponderEliminarE fê-lo com tanta força que até Miguel Portas, que é um defensor de todas as posições árabes recorrendo a argumentos tremendos, se limita neste despique a desancar hoje no editorial do Público de José Manuel Fernandes de 2ª Feira, que defendia as posições israelitas recorrendo a argumentos tremendos...
Acho estranho o autor deste blogue não constar da lista negra do Gorjão. Se bem que aqui não se ataque Israel, também não se defende.
ResponderEliminarPara certos energúmenos, tal deveria ser suficiente para um anátema...
E os libaneses, ninguém se preocupa com eles?? E o Líbano???