Em circunstâncias que ele considerará idênticas às que vou expor, as de um tratamento jornalístico desesperadamente parcial em relação a uma das partes numa disputa qualquer, símbolo evidente de jornalismo engajado, José Pacheco Pereira (JPP) costuma inserir a imagem de um cãozinho, de frente e focinho virado para o leitor, rosnando e mostrando os seus grandes dentes aguçados.
Por isso, involuntariamente decerto, é capaz de lhe ter escapado uma interessante distorção da cobertura noticiosa do Público de hoje (17 Jul.) sobre o referido conflito. Tentando imitar-lhe o estilo, de citações imediatamente seguidas dos comentários, teremos, começando pelo título de primeira página:
Mas desconfio que, por detrás daquele seu aparente distanciamento dos assuntos tratados, camuflado de objectividade, está, por sua vez, um engajamento político seu, também carregado de parcialidade – como será o caso deste renovado conflito israelo-árabe, onde não será muito difícil adivinhar fortes simpatias pró-israelitas da parte de José Pacheco Pereira.
Por isso, involuntariamente decerto, é capaz de lhe ter escapado uma interessante distorção da cobertura noticiosa do Público de hoje (17 Jul.) sobre o referido conflito. Tentando imitar-lhe o estilo, de citações imediatamente seguidas dos comentários, teremos, começando pelo título de primeira página:
MÍSSEIS DO HEZBOLLAH MATAM CIVIS NA CIDADE MAIS TOLERANTE DE ISRAEL
Pelos vistos, o barbarismo da acção é ampliado por ter causado a morte de civis agravado por o ter feito na cidade mais tolerante de Israel. Aqui fico confuso, quanto ao conceito de uma cidade tolerante, excepto quanto à impressão que atacar cidades tolerantes ainda é pior do que atacar quaisquer outras cidades, das normais.
Mas permanece-me a dúvida quanto à concretização sobre o que será tolerante: Amesterdão é tolerante, por ter aquelas ruas dedicadas à prostituição? Ou estamos a falar de outro tipo de tolerância? Mas qual? Já agora, qual é a cidade que quem escolheu o título pensa ser a mais tolerante de Portugal?E seguindo para o subtítulo da notícia:
Raides israelitas no Líbano provocam 45 mortos e mais de 100 feridos.
É importante ver as consequências das acções de um dos contendores com o número de vítimas quantificadas, mesmo que isso aconteça em subtítulo. Do facto de aparecer em subtítulo é de toda a naturalidade que se possa concluir que os raides israelitas foram de gravidade e/ou de importância menor.
O leitor poderia ter uma oportunidade de formar uma opinião se dispusesse logo ali da informação do que aconteceu à parte contrária, ou seja, o número de civis mortos e feridos na cidade mais tolerante de Israel. Não está ali disponível mas fica-se a saber nas páginas interiores que houve 8 mortos e 53 feridos, ou seja, os raides israelitas tiveram efeitos muito mais mortíferos do que os mísseis do Hezbollah...
É maçudo analisar com o mesmo detalhe as quatro páginas seguintes (p.2 a 5), onde se inclui uma explicação a uma coluna completa sobre a história de Haifa, mais uma vez apresentada como a cidade mais tolerante, mas continuando sem explicação concreta alguma para as razões para ser assim designada.
Mas vale a pena destacar, porque envolvendo o director do próprio jornal, uma reportagem (p.5) e o editorial (p.6) de José Manuel Fernandes, a primeira intitulada A Vida sob a ameaça dos mísseis Qassam e ilustrada com a fotografia de uma criança israelita chorando em frente a uma ambulância e o segundo intitulado Uma Guerra diferente com o subtítulo A diferença entre conflitos políticos e religiosos é que os primeiros admitem compromissos, os segundos não.
A reportagem – excelente – poderia perfeitamente ter sido feita do outro lado com um retoque no título (A Vida sob a ameaça das bombas dos F-15) e onde a ilustração podia ser até com mais impacto, porque do lado libanês já se pode disponibilizar uma fotografia com um cadáver de uma criança morta, que ontem ilustrava a peça publicada no Diário de Notícias.
Quanto à tese do editorial, só posso considerá-la um disparate pegado, tão empenhado é o esforço José Manuel Fernandes de justificar as acções desencadeadas por Israel: durante os dez séculos da Idade Média conflito político sempre foi sinónimo de conflito religioso - não vale a pena martelar aqui uma diferença no conflito para justificar comportamentos desproporcionados por parte do beligerante Israel.
O leitor poderia ter uma oportunidade de formar uma opinião se dispusesse logo ali da informação do que aconteceu à parte contrária, ou seja, o número de civis mortos e feridos na cidade mais tolerante de Israel. Não está ali disponível mas fica-se a saber nas páginas interiores que houve 8 mortos e 53 feridos, ou seja, os raides israelitas tiveram efeitos muito mais mortíferos do que os mísseis do Hezbollah...
É maçudo analisar com o mesmo detalhe as quatro páginas seguintes (p.2 a 5), onde se inclui uma explicação a uma coluna completa sobre a história de Haifa, mais uma vez apresentada como a cidade mais tolerante, mas continuando sem explicação concreta alguma para as razões para ser assim designada.
Mas vale a pena destacar, porque envolvendo o director do próprio jornal, uma reportagem (p.5) e o editorial (p.6) de José Manuel Fernandes, a primeira intitulada A Vida sob a ameaça dos mísseis Qassam e ilustrada com a fotografia de uma criança israelita chorando em frente a uma ambulância e o segundo intitulado Uma Guerra diferente com o subtítulo A diferença entre conflitos políticos e religiosos é que os primeiros admitem compromissos, os segundos não.
A reportagem – excelente – poderia perfeitamente ter sido feita do outro lado com um retoque no título (A Vida sob a ameaça das bombas dos F-15) e onde a ilustração podia ser até com mais impacto, porque do lado libanês já se pode disponibilizar uma fotografia com um cadáver de uma criança morta, que ontem ilustrava a peça publicada no Diário de Notícias.
Quanto à tese do editorial, só posso considerá-la um disparate pegado, tão empenhado é o esforço José Manuel Fernandes de justificar as acções desencadeadas por Israel: durante os dez séculos da Idade Média conflito político sempre foi sinónimo de conflito religioso - não vale a pena martelar aqui uma diferença no conflito para justificar comportamentos desproporcionados por parte do beligerante Israel.
Quanto a compromissos, é das normas milenares da arte da guerra, que eles se obtêm quando existe vontade das duas partes em conflito, porque ambas creêm extrair vantagens do seu estabelecimento. Dando um exemplo repetido, e ficando-nos só por Portugal, Afonso Henriques e os seus sucessores fartaram-se de estabelecer compromissos com os monarcas muçulmanos da península e do norte de África.
Não se pense que do outro lado do conflito mora a inocência. Inocência é aqui palavra omissa e quando aparece é, provavelmente, hipócrita. Como a fotografia acima citada ou a notícia que dava oito canadianos mortos num ataque israelita que depois se veio a verificar que se tratava de emigrantes libaneses de férias com dupla nacionalidade.
Esta guerra está a ser travada pela posse das opiniões públicas mundiais e em Portugal alguns órgãos de comunicação social também já foram alistados. Ao aceitar viajar a convite do ministério dos negócios estrangeiros israelita parece que José Manuel Fernandes, metaforicamente, se anda a passear de capacete de pára na cabeça e de pala no olho, como uma espécie de Moshe Dayan moderno e à portuguesa.
Perante tanto facciosismo de parte a parte e, no caso em destaque, num jornal português que se pretende de referência, eu não tenho jeito para rosnar como o boneco do cão de Pacheco Pereira, mas também não resisto à minha ironia, usando, em alternativa, o girassol e o slogan outrora usado pelos verdes – os originais. Objectividade?! Não, Obrigado…
Brilhante, mais uma vez. Não há pachorra para os bonzos ex-maoístas/marxistas como Pacheco e Fernandes. São repugnantes na sua patética persistência em quererem estar sempre do "lado correcto da história".
ResponderEliminarCuriosamente, ou talvez não, nunca acertam... excepto se aferirmos o "acerto" pelas prebendas que dali advém...
Obrigado pelo elogio.
ResponderEliminarNestes casos eu até posso e devo respeitar as opiniões de quem de mim discorda, desde que dêem mostras recíprocas de respeito a quem os lê.
Por exemplo: valerá a pena explicar a José Manuel Fernandes que o problema de Israel pagar as suas viagens não se encerra com o facto de o anunciar nos artigos que escreve? Que não se trata de uma questão de transparência da corrupção mas da própria corrupção? Porque carga d´água estaria Israel interessado em que ele os visitasse precisamente agora?Já terá José Manuel Fernandes ouvido falar da mulher de César?
Se não, já devia ter ouvido - falta sua. Se sim, e talvez pense que nós não, convém transmitir-lhe da forma que pudermos (um blogue também serve)que está enganado...