01 julho 2006

O PRIMEIRO DIA NO SOMME

Mesmo não sendo muito propenso a comemorações, faz todo o sentido assinalar aqui o 90º aniversário do início da ofensiva do Somme (1 Julho de 1916), durante a Primeira Guerra Mundial. Não por ter sido uma grande vitória, nem por ter sido uma importante batalha, de especial significado estratégico para os britânicos. Vale a pena assinalá-lo porque, nesse dia, nessa manhã para ser mais preciso, não se tendo atingido uma grande vitória, nem tendo acontecido nada de relevante significado estratégico, as forças atacantes do exército britânico sofreram 57.000 baixas, 20.000 das quais em mortos. Foi o maior volume de baixas sofridas pelo exército britânico num só dia. Para quem queira actualmente compreender como é que vagas consecutivas de militares se lançaram ao ataque através da terra de ninguém fustigada pelo tiro das metralhadoras, impulsionados por um sentido do dever que nos parece hoje incompreensível, e ao mesmo tempo se estavam a aperceber do que estava a acontecer às unidades precedentes, recomendo a leitura do livro The First Day on the Somme de Martin Middlebrook. É um excelente livro (não lhe conheço tradução para português), datado de 1971, por isso ainda recheado de testemunhos presenciais, que acompanha a história do dia, vivendo-o à volta da experiência de dez soldados que lá estiveram presentes, e que, posso antecipar, tiveram destinos diferentes. É a descrição de uma outra Europa, de que esta, infelizmente, parece já se ter esquecido. Infelizmente, porque se assiste ao comportamento dos hooligans, a provocar distúrbios em Gelsenkirchen e com ar de quem está a passar por uma tragédia pela derrota da selecção inglesa frente à de Portugal. Justapondo-os, estes distúrbios tornam-se um verdadeiro insulto para todos os seus antepassados que, há 90 anos e por aquela mesma hora, jaziam feridos ou mortos espalhados ao longo da terra de ninguém que separava as trincheiras alemãs das suas, à espera de evacuação. E, só os britânicos (haveria que contar também com os alemães e os franceses), eram quase tantos como os que encheram hoje o estádio onde se disputou o encontro...

1 comentário:

  1. Excelente texto. A memória dos homens, infelizmente, é muito curta.

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