Um dos períodos mais obscuros da história de França é o que cobre a época do governo de Vichy do Marechal Pétain e a ocupação alemã (1940-44). É um trabalho esforçado, o de procurar bibliografia sobre o período, especialmente a que cubra os acontecimentos que se desenrolaram em território francês. Muito do que existe é até de origem e autoria de estrangeiros.
O contraste acentua-se quando, pelo contrário, a bibliografia não falta no que respeita à cobertura dos franceses exilados, do gaullismo e das suas iniciativas em território francês. Em 1945, os prodígios da iconografia e as necessidades estratégicas do Reino Unido tinham transformado a França – que se havido reconhecida derrotada em 1940 – num beligerante de sempre contra a Alemanha, composto por combatentes no exílio e resistentes no interior.
Essas eram imagens que não se aplicavam a 90% da população francesa. Nessas épocas difíceis, em que a neutralidade é, só por si, uma escolha, a maioria da população francesa escolheu… não escolher. Nunca houve sondagens que dessem uma medida da inclinação da vontade das populações mas, quando em Julho de 1941, foi proposto aos militares franceses aprisionados na Síria, optarem por se juntarem à França Livre (do General de Gaulle) de livre vontade, só 5.688 em 37.736 o fizeram (15%). Eloquente!
A aura de exilado ou de resistente foi característica determinante para a política francesa no período imediato ao fim da Guerra, algo que serviu como uma enorme alavanca à influência do Partido Comunista Francês, que tinha sido a organização política que tinha estado indiscutivelmente mais empenhada nas acções de resistência à ocupação alemã a partir da invasão alemã à União Soviética em Junho de 1941.
Mesmo depois disso, a ficção ficou a perpetuar-se por quase 50 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, por um evidente interesse colectivo. Foi preciso que um ex-presidente francês (François Mitterrand), à beira da morte, se tivesse vindo expor como antigo colaborador destacado do regime colaboracionista de Vichy, para que se vislumbrassem algumas manobras tímidas para remover toda a hipocrisia que tem coberto aqueles anos.
A França é um país antigo, com uma história antiga. Timor-Leste é um país jovem embora com uma história muito sofrida, com uma ocupação, não de quatro, mas de vinte e quatro anos. Atentando no exemplo francês, não me parece arriscado dizer que o verdadeiro povo de Timor deve ser uma espécie de miolo bastante diferente daquela crosta de exilados e resistentes que agora domina o país e que hoje, tomou e deu posse ao governo de Ramos Horta.
O contraste acentua-se quando, pelo contrário, a bibliografia não falta no que respeita à cobertura dos franceses exilados, do gaullismo e das suas iniciativas em território francês. Em 1945, os prodígios da iconografia e as necessidades estratégicas do Reino Unido tinham transformado a França – que se havido reconhecida derrotada em 1940 – num beligerante de sempre contra a Alemanha, composto por combatentes no exílio e resistentes no interior.
Essas eram imagens que não se aplicavam a 90% da população francesa. Nessas épocas difíceis, em que a neutralidade é, só por si, uma escolha, a maioria da população francesa escolheu… não escolher. Nunca houve sondagens que dessem uma medida da inclinação da vontade das populações mas, quando em Julho de 1941, foi proposto aos militares franceses aprisionados na Síria, optarem por se juntarem à França Livre (do General de Gaulle) de livre vontade, só 5.688 em 37.736 o fizeram (15%). Eloquente!
A aura de exilado ou de resistente foi característica determinante para a política francesa no período imediato ao fim da Guerra, algo que serviu como uma enorme alavanca à influência do Partido Comunista Francês, que tinha sido a organização política que tinha estado indiscutivelmente mais empenhada nas acções de resistência à ocupação alemã a partir da invasão alemã à União Soviética em Junho de 1941.
Mesmo depois disso, a ficção ficou a perpetuar-se por quase 50 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, por um evidente interesse colectivo. Foi preciso que um ex-presidente francês (François Mitterrand), à beira da morte, se tivesse vindo expor como antigo colaborador destacado do regime colaboracionista de Vichy, para que se vislumbrassem algumas manobras tímidas para remover toda a hipocrisia que tem coberto aqueles anos.
A França é um país antigo, com uma história antiga. Timor-Leste é um país jovem embora com uma história muito sofrida, com uma ocupação, não de quatro, mas de vinte e quatro anos. Atentando no exemplo francês, não me parece arriscado dizer que o verdadeiro povo de Timor deve ser uma espécie de miolo bastante diferente daquela crosta de exilados e resistentes que agora domina o país e que hoje, tomou e deu posse ao governo de Ramos Horta.
E o desgosto que tenho por nunca lhe ter chamado "mon ami"!
ResponderEliminarSe já for permitida uma síntese provisória sobre François Mitterrand é que ele tinha todos os defeitos e idiossincrasias de um grande Homem (como de Gaulle os tinha, por exemplo) mas sem nunca ter sido um grande homem...
ResponderEliminarÉ possível que, no futuro, Mitterrand venha a ser, juntamente com de Gaulle, um dos símbolos da V República. Que embaraço para a V República...
Um aldrabão que aldrabou toda a sociedade em tantos assuntos (da carreira, da política, de família, de saúde)para conseguir tornar-se presidente.
E, o que é verdade é que a França caiu na esparrela...