08 julho 2006

O TIO PATINHAS

Segundo se soube pelo Expresso, o Sr. Ingvar Kamprad, dono da cadeia de lojas IKEA e uma das maiores fortunas do mundo, veio fazer uma visita incógnito à sua loja de Alfragide. Enquanto esteve entre nós, hospedou-se numa pensão modesta na Praça da Alegria, apanhou um táxi para Alfragide e de lá regressou de autocarro, no 14, que o deixou na Praça da Figueira.

Sendo verdadeira, esta torna-se uma história engraçada, com a descrição de um verdadeiro Tio Patinhas de carne e osso de 80 anos que, se calhar, ainda se arrependeu de ter desembolsado todo aquele dinheiro no táxi por não saber que havia um autocarro que quase lhe passava à porta.

Mas deixem-me expressar a minha incredibilidade ao deparar-me com o aproveitamento desta mesma história, feito aqui na blogosfera, como preâmbulo para um conjunto de considerações, que se podem ler neste poste, auto flagelativas sobre o comportamento exibicionista e superficial dos portugueses perante a discrição e a sobriedade nórdicas – o Sr. Kamprad é sueco.

Descontando os fundamentos naturais que se podem sempre encontrar enumerando os casos excessivos, os portugueses parecem ser, quanto à forma como mostram o seu estatuto social, tão exibicionistas como muitas outras culturas, próximas (espanhóis) ou afastadas (norte-americanos). Algumas vezes menos: as maquilhagens das espanholas e as limousines compridas dos americanos (ainda) não são comuns entre nós. Pelo contrário, é o comportamento contido dos suecos que se revela muito minoritário neste nosso mundo globalizado.

Embora seja muito mais frequente do que o desejável, continuo a considerar grotesco este exercício repetitivo de nos querer dar como referência aos portugueses, os nórdicos, sejam eles suecos ou finlandeses. Porque não acontece o contrário, dado que, embora mais ricos, eles são visivelmente muito mais infelizes que nós, com uma das maiores taxas de incidência de suícidios do mundo?

E já agora, João Gonçalves, se somos um país de cagões, conforme o título do seu poste, devemos assumir também que somos um país de intelectuais cagões – porque também se pode ser cagão intelectualmente, não será? - que passamos o tempo a escrever aqui na blogosfera sobre temas demonstrando a nossa sobranceria na forma como os intelectuais se distinguem da ralé…

2 comentários:

  1. Muito bem metido... aliás, este Sr. fez isto porque não tem dinheiro. Como li num número da Economist, há cerca de mês e meio, este cavalheiro colocou todas as acções da IKEA num fundo, de direito holandês, para evitar pagar impostos... um verdadeiro oportunista, portanto, e que serviu já de exemplo a alguns portugueses, como o conhecido merceeiro Belmiro...

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  2. 100 % de acordo, meu caro. Um país de cagões pequeninos...

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