14 julho 2006

AS VEDETAS DO LIBERALISMO: DE PEDRO ARROJA A PACHECO PEREIRA


Os Grandes Mestres de xadrez tem por costume mostrar a sua categoria e contribuir para a difusão do desporto participando em simultâneas. Jogando o Mestre simultaneamente contra dezenas de oponentes, estes têm a vantagem de poder reflectir nas jogadas com muito mais tempo que o opositor. Normalmente, qualquer Grande Mestre ganha 90% das partidas disputadas porque o jogo dos oponentes é sempre muito previsível.

Nos inícios dos anos 90, auge do cavaquismo, começou a suscitar muita atenção um propagandista do liberalismo, chamado Pedro Arroja (acima), paladino do privado e das privatizações que, num seu programa de rádio, era de uma ousadia tremenda nas medidas que preconizava: desde propor a privatização das prisões até à dos rios, era um ver se te avias… Tudo passaria a funcionar melhor.E, mais do que isso, durante o programa, havia debates com os ouvintes.

A ousadia de Arroja fazer aquele número de circo, num género que ele pretenderia de Grande Mestre do xadrez (90% de vitórias e alguns empates), mas não era, deu-me a perceber que não chegava a haver verdadeira conversa com o ouvinte, Arroja reafirmava a sua mensagem independentemente da argumentação que (não) ouvia do interlocutor e eu descobri que o autismo em discussão não era caso exclusivo dos comunistas e dos fundamentalistas cristãos.

Com a notoriedade assim adquirida, Pedro Arroja deve ter aproveitado para se lançar como consultor de investimentos e actividades relacionadas, como se pode depreender da imagem publicitária que enfeita este post. É preciso uma certa veterania para nos lembrarmos dele. Não é arriscado extrapolar que alguns dos liberais mais novos nem devem ter ouvido falar dele.

Mas Pedro Arroja é uma espécie de bisavô – porque nestas coisas liberais e privadas a eficiência deve ser tanta que as gerações se sucedem com rapidez de coelhos… – do Martim Avillez Figueiredo, de alguns ideólogos do liberalismo que considero sérios, de uma catrefada doutros que são desesperadamente tontos e da mais recente aquisição para a causa, José Pacheco Pereira.

José Pacheco Pereira juntou-se ao clã liberal recentemente, mas fê-lo com tal pose e estilo, como só ele sabe fazer, que faz lembrar o processo da anexação, ocorrida em 1873, da Ilha Príncipe Eduardo (com 135.000 habitantes*) ao resto do Canadá (que tem 30 milhões*), assim comentada pelo governador-geral da época: ficou a impressão que o Domínio (do Canadá) é que havia sido anexado à Ilha Príncipe Eduardo.

Se antiguidade contar para alguma coisa nas hierarquias do liberalismo (desconfio que Pacheco Pereira nos irá explicar brevemente que não…) lembremo-nos que nos tempos em que Pedro Arroja, o fundador despontava para a causa, ainda José Pacheco Pereira era um social-democrata empedernido, ideólogo do cavaquismo, defensor que o reformismo em Portugal era o PSD, partido que tinha os melhores quadros para reformar o país.

Foi uma mensagem que, há que reconhecer, se fixou, imune à passagem do tempo, a Guterres (que era mais humano, não mais competente...), a Durão Barroso, até a fatídica reunião do Conselho Nacional do PSD em que mais de 100 companheiros de Pacheco Pereira – com uma ínfima minoria a votar desalinhada – apoiaram a solução Santana Lopes para primeiro-ministro…

Depois foi o que se viu, e Sócrates ficou com o centro, o governo, o reformismo e a competência. Merecidamente (sempre foram mais de 100 altos dirigentes do partido a sancionar a escolha Santana Lopes!) o PSD está onde está, na oposição e à procura de causas até Pacheco Pereira lhe vir propor, ideologicamente, esta coisa do liberalismo.

Que, lá por ser a única coisa a fazer, não quer dizer que seja coisa que se faça. Segundo creio, o PSD não é, nunca foi e, arrisco, nunca poderá ser, liberal. Suspeitando que Pacheco Pereira saiba disso, é uma ironia que preconize para o seu partido soluções que passem por demonstrar as capacidades camaleónicas que tanto censura no seu inimigo de estimação Paulo Portas…

* População em 2001. Em área, a Ilha Príncipe Eduardo tem 6.000 Km2 dos quase 10 milhões com que conta o Canadá…

2 comentários:

  1. Seria incapaz de investir num PPR assim "arrojado"!
    Ainda se fosse num "Pedro Caldeira PPR"...

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  2. E não é que dois dias depois de ter posto aqui este post, José Pacheco Pereira deu em publicar no seu blogue duas (boas) contribuições de Pedro Arroja?

    Estou desconfiado que, depois de ter postado, devia ter saído daqui e preenchido rapidamente o boletim do euromilhões...

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