
Nas tentativas para impedir aquilo que veio a revelar-se uma paranóia, os britânicos desencadearam duas operações militares de sucesso medíocre e que vieram a revelar-se um clamoroso desastre político, apenas disfarçado pela continuação dos acontecimentos. A primeira operação militar desenrolou-se a 5 de Julho de 1940, numa base naval francesa da Argélia, chamada Mers-el-Kébir, que já havia mencionado colateralmente num outro poste, a segunda operação foi esta Batalha de Dakar, outro fiasco, mas com o condimento da disputa política interna entre a França Livre (de Gaulle) e o Estado Francês (Pétain)…

Mas, como base logística e fonte de recursos, a AEF continha apenas cerca de 3 milhões de nativos e menos de 6.000 europeus... O objectivo mais desejável dos gaullistas era o de aliciar a muito mais importante África Ocidental Francesa (AOF***), cuja capital era Dakar. Em vez de tentar atraí-los com aquelas manobras de bastidores, que costumam ser tão do agrado da cultura francesa, por sugestão de Churchill a de Gaulle, juntou-se o útil ao agradável: uma expedição francesa para persuadir a administração colonial de Dakar, apoiada numa frota britânica que estava mais interessada nos navios da base naval…

Depois de Mers-el-Kébir, a presença da frota britânica ao largo não era propriamente uma ajuda à delegação enviada a terra por de Gaulle. A composição desta, escolhida de entre o que de Gaulle podia seleccionar de entre a nata da sociedade francesa, também parecia constituída de propósito para irritar os representantes tradicionalmente experimentados da escola da Administração Colonial Francesa**** que os aguardavam em terra. Os membros da delegação nem saíram do cais e, quando resistiram à ordem de reembarque, foram alvejados com uma rajada de metralhadora que feriu o neto do Marechal Foch…

Acumulando 600 baixas entre marinheiros e soldados do corpo expedicionário, o Almirante Cunningham decidiu finalmente retirar-se. A eventualidade de um futuro novo entendimento entre franceses e britânicos passou de remota a impossível. Para o francês médio, o episódio consagrou a imagem de de Gaulle como uma marioneta dos ingleses. A AOF só veio a abandonar a obediência a Vichy em Dezembro de 1942. Mas a vingança de de Gaulle serviu-se fria: Pierre Boisson continuou em funções e só passado quase um ano (em Novembro de 1943) é que ele foi julgado em Argel e condenado à demissão com perda da pensão de reforma…

** Chade, Congo, Gabão e a actualmente designada República Centro-Africana.
*** Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Guiné-Conakry, Mali, Mauritânia, Níger e Senegal.
**** Como exemplo da meritocracia em vigor, o Governador-Geral da AEF que se pronunciara a favor da França Livre chamava-se Félix Éboué, era negro, embora originário da Guiana Francesa (América do Sul), e neto de escravos.
Lido.
ResponderEliminarComo na Bíblia, ao sétimo dia descansei...
ResponderEliminarA sério? Descansaste mesmo? Fico com pena embora tenha tido alguma dificuldade em acompanhar o teu ritmo de escrita sobretudo nestas últimas semanas em que tenho andado mais ocupada.
ResponderEliminarMas depois de descansares recomeças não é verdade?
Beijinhos
Parei, até porque o tema entra em conflito com o livro que estou a ler: "A Europa em Guerra", Norman Davies, Edições 70. Depois, para parafrasear uma paráfrase tua, faço uma recensão...
ResponderEliminarNormalmente prefiro não escrever sobre o que estou a ler. A propósito, devo conhecer centenas de pessoas que teriam "alguma dificuldade em acompanhar o meu ritmo de escrita", mas não te incluo nesse grupo... Ainda não me esqueci da famosa equação:
1 livro + 1 gripe + 24 horas = 1 recensão