Durante o período das guerras em África, ficaram conhecidos por abatises (uma palavra originalmente francesa) aqueles obstáculos (normalmente troncos de árvore de grande porte) que os guerrilheiros colocavam ao longo das vias rodoviárias para dificultar o trânsito das viaturas das tropas portuguesas. Não causavam baixas, não se ganha uma guerra só com isso, mas eram uma chatice. E os que as colocavam sabiam disso e, por isso mesmo, colocavam mais. Esta era das redes sociais criou uma coisa que se reveste da mesma estrutura moral dos abatises: refiro-me a uma espécie de fauna que, lendo o que os outros escrevem, se especializou em colocar comentários desagradáveis e sempre e só desagradáveis nas caixas previstas para esse fim. Até podia ser que, muito de vez em quanto e em vez de um (comentário) tronco atravessado na estrada, colocassem dois ou três por cima da depressão de um pequeno curso de água (inócuos ou perturbadoramente elogiosos), para facilitar a circulação. Mas não. Parece não ser essa a ideia, a de ser equilibrado e distribuir tanto críticas quanto elogios, ainda que esparsos. A ideia é ser mesmo e só «amigo da onça». Ampliando a analogia, também não se adivinha entre os autores destes comentários desagradáveis uma preocupação por aí além em acompanhar os esforços (as respostas e críticas que os seus comentários suscitam) para resolver os incómodos que causam, como acontecia com os autores dos abates de árvores à beira da estrada. Ou seja, tudo se parece limitar à tarefa de chatear outros, só pelo prazer de se notabilizar chateando-os. Mas com uma diferença alicerçal: os guerrilheiros que colocavam os troncos consideravam-se em guerra contra o exército português; os autores destes abatises virtuais do século XXI estão em guerra com o resto dos frequentadores do meio, o que é uma estupidez.
Sem comentários:
Enviar um comentário