05 fevereiro 2020

OS «COELHOS» QUE DEFENDEM DONALD TRUMP E TÊM VERGONHA DE O ASSUMIR

É o episódio mediático do dia. E, porque um video como o acima corre o risco sério de ser retirado quando, daqui por um punhado de semanas, nos esquecermos do que nele se exibe, convém aqui descrevê-lo: começa pelas cenas do início da cerimónia do discurso sobre o Estado da União que costuma ser tradicionalmente proferido pelo presidente dos Estados Unidos nesta altura do ano. E porque esse discurso é pronunciado diante das duas câmaras do Congresso (Senado e Representantes), por detrás de Donald Trump vêem-se os presidentes dos dois órgãos: o vice-presidente Mike Pence (Senado) e a congressista californiana Nancy Pelosi (Representantes). Ambos batem palmas até que o presidente se vira para trás e lhes entrega duas cópias dos discurso que irá proferir, quando Trump ignora a mão estendida de Pelosi. Sensivelmente uma hora e vinte depois, quando Trump conclui o discurso e se chega à ocasião dos aplausos, Pelosi aproveita a ocasião em que as câmaras e as atenções estão centradas no orador para, por detrás dele, se levantar (como Pence também faz, mas aplaudindo) e rasgar ostensivamente as folhas que lhe haviam sido entregues por Trump no início da cerimónia. Por ser tão inédito, e porque os interesses mediáticos se pautam pelas aparências e não pela substância, o gesto ofuscou tudo o que se poderia comentar a respeito do discurso sobre o Estado da União. O que se constata também é que, quando Trump sai da redoma em que sempre o encerram e quando é obrigado a contracenar com intervenientes que não se intimidam com a sua brutalidade (já aconteceu outras vezes com Pelosi, mas também já aconteceu com Emanuel Macron), as coisas têm tendência para correr mal à coreografia da respeitabilidade que a Casa Branca deseja que exista sempre ao redor do presidente dos Estados Unidos...
Mas reconheçamos que tudo isto são problemas da responsabilidades dos americanos que a eles e só a eles compete dirimir. O que me entretém neste episódio do dia é outra coisa, atitude tipicamente nossa, no oportunismo como já me deparei com um, dois, três coelhos que parecem ter saído da toca para se manifestarem indignados com os papéis rasgados por Nancy Pelosi. Qualifico-os por coelhos porque habitualmente conseguem permanecer proeminentes na paisagem das redes sociais, mas selectivos sobre o que opinam, e, sobre a actualidade americana, comprovadamente desprovidos de opiniões firmes a respeito de episódios sucessivos que transformaram num enorme embrulho a presidência de Donald Trump. Apareceram hoje, mostrando desta vez firmeza, mas na condenação do gesto da presidente da câmara dos Representantes. É uma outra maneira de defender Donald Trump, que os coelhos porventura pensarão ardilosa, sem se exporem ao ridículo de o defender directamente, atacando apenas quem o confronta. Encontrei-os, aos três coelhos, sem os querer achar, que a época da caça ao bicho está fechada. É que, ainda por cima, a dois dos três que encontrei, descobrira-os entusiastas mas efémeros apoiantes de Luís Montenegro à presidência do PSD no mês passado, outro assunto sobre o qual, agora e com a aproximação do congresso do partido, também não têm saído da toca... São os comentadores que têm sempre razão porque quando a não têm, cobardemente tentam dissimular-se com a paisagem. (adenda: dois cartoons políticos a respeito do incidente e da forma como foi acolhido) 

Ainda a propósito, Nancy Pelosi - a caminho de completar 80 anos - é já suficientemente veterana para poder ter estado presente em momentos de outros discursos sobre o Estado da União do passado, com outros presidentes republicanos, e que correram bastante melhor. Apesar da ocasião em que quis convencer a opinião pública que não odeia Donald Trump, parece por demais evidente que Nancy Pelosi detesta e despreza o actual ocupante da Casa Branca... e o sentimento é recíproco. 

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