15 fevereiro 2020

O ESCÂNDALO DAS DOAÇÕES DA CDU («SPENDENAFFÄRE»)

15 de Fevereiro de 2000. Wolfgang Thierse, que era então o presidente do Bundestag, aplica uma multa de 41 milhões de marcos à CDU, em consequência de múltiplas irregularidades detectadas na prestação das contas do partido ao parlamento. Tratava-se de um processo complexo a respeito do financiamento da CDU, processo que que acabou envolvendo as figuras de maior vulto do partido, nomeadamente o antigo chanceler Helmut Kohl e também o seu sucessor à frente da CDU, o nosso conhecido (e muito estimado cá em Portugal...) Wolfgang Schäuble. Na Alemanha o processo veio a ficar conhecido como o Escândalo das Doações (Spendenaffäre). Neste dia de há vinte anos e de uma forma expedita, o presidente Thierse (que pertencia ao SPD, rival da CDU), em vez de enviar uma nota de cobrança ao partido prevaricador, reteve o valor correspondente à multa, na transferência das dotações federais que eram devidas aos partidos políticos. De uma penada a CDU recebeu menos 41,3 milhões de marcos daquilo que os seus responsáveis financeiros estariam a contar (um montante correspondente a 28,1 milhões de euros aos preços actuais). Como comentava então Angela Merkel numa notícia de jornal: «foi um dia difícil para a CDU». Era um completo «understatement» que, como perceberemos adiante, continha uma boa dose de cinismo. A cobrança coerciva da multa rebentara de uma penada com a tesouraria da CDU. E, com aquela brutalidade tipicamente germânica, passava-se o recado a quem parecia que não o queria ouvir: no dia seguinte, Wolfgang Schäuble, que passara os dois meses anteriores a assobiar para o ar enquanto os detalhes sobre o seu envolvimento directo no assunto se acumulavam, demitiu-se finalmente da liderança da CDU. Para suceder a Schäuble apresentou-se Angela Merkel, eleita para o cargo em 10 de Abril de 2000 na conferência de Essen, com 897 em 935 votos (96%). A CDU iniciou uma batalha legal para a recuperação do dinheiro da multa que só terminou em 2004. Por essa altura, Angela Merkel ainda tinha que esperar mais um ano até vir a ser eleita, finalmente, chanceler. Como todas as histórias de financiamento partidário, também esta terminou com aquela sensação de oblívio e de que o assunto fora propositadamente descurado. Muito ajudará a essa sensação amarga a constatação de que é Wolfgang Schäuble que desempenha agora as funções de presidente do Bundestag, as que há vinte anos eram as de Wolfgang Thierse...

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