20 fevereiro 2020

O RETORNO DE DOM SEBASTIÃO É UM MITO MAS ISTO SÃO ALGUNS MITOS CRIADOS PELO PRÓPRIO DOM SEBASTIÃO

Foi interessante este episódico regresso à ribalta de Pedro Passos Coelho, por ocasião do lançamento de um livro de Carlos Moedas. E foi ainda mais interessante por ele ter vindo expor uma ânsia que se pode classificar de sebastiânica pelo antigo primeiro-ministro, vinda de sensibilidades da direita de que se estaria naturalmente à espera (Observador e até mesmo o Negócios), mas mesmo doutras (como o Expresso) que descobrimos agora se sentirem orfãs com a presença de Rui Rio à frente dos destinos do PSD. Este último parece ter mesmo um jeito natural para que toda a comunicação social implique consigo. É um aspecto em que Carlos Moedas, o autor do livro, homenageado da cerimónia e potencial concorrente futuro à frente do PSD lhe leva completamente a palma. O antigo comissário europeu parece-me o exemplo acabado do português videirinho que se dá bem com todos - sobretudo com os jornalistas! - e que não quer chatices com ninguém. Ele há até simpatias que as circunstâncias tornam incómodas, como o apreço que o clã dos Espírito Santo lhe dedicava, e que terá levado a que o clã «o tivesse posto a funcionar» por ocasião de uma das várias enrascadas que precederam o colapso do banco. Não foi bonito ouvir os Espírito Santo a tratar Moedas como um empregado, mas a gente, felizmente, esquece-se destas tristes figuras. E a ocasião também era de dizer bem de Carlos Moedas e foi isso que Pedro Passos Coelho fez, embora com nuances. Nunca é simpático saber-se que se foi escolhido para um cargo como segunda escolha, que a verdadeira escolha era mesmo Maria Luís Albuquerque, mas a oportunidade era demasiado boa para não assestar nos flancos que a exposição mediática de António Costa vai oferecendo. A história evocada por Passos Coelho, de que o PS se opusera fortemente à escolha de Carlos Moedas para comissário europeu aparece reproduzida no Expresso e no Observador num formato inabitualmente rigoroso, porque até documentado com links para artigos da época. É engraçado como os jornalistas que terão encontrado os artigos, especialmente o do Observador, não se depararam com este outro abaixo, da mesma altura e no seu próprio jornal, em que se escreve precisamente o contrário daquilo que Passos Coelho defende que terá acontecido: PS não se vai opor à indicação de Moedas para a Comissão Europeia. Ultrapassando qualquer maldosa insinuação que alguém terá dado aos jornalistas o trabalho já feito da pesquisa dos artigos que sustentam a tese do ex-primeiro-ministro, avente-se a hipótese também que os comentários recuperados seriam mais para levar à conta da coreografia política do momento do que propriamente uma intenção substantiva do PS em opor-se à nomeação de Carlos Moedas.
A fotografia acima, feita há seis meses, poderá representar, como Pedro Passos Coelho pretende, uma incoerência de António Costa em relação à opinião que ele emitira cinco anos em relação a Carlos Moedas. Mas reconheça-se que nesses anos, Carlos Moedas, com a sua atitude de videirinho, forjara com o actual primeiro-ministro uma cumplicidade táctica que este só tinha que agradecer. Deve ter sido porque Pedro Passos Coelho já se retirara da política activa, que ele não se lembrou que ainda há um ano o comissário Carlos Moedas fora nomeado «mandatário nacional social-democrata para as eleições europeias». Um mandato de oposição aos socialistas que ele, Carlos Moedas, desempenhou com um empenho q.b.: a duas semanas das eleições (que o PSD iria perder com fragor), ainda podíamos ouvir o comissário europeu a comentar elogiosamente António Costa, a propósito de um artigo aparecido poucos dias antes no Financial Times que o dava, a Costa, como favorito para um cargo europeu. Portanto, à despedida, a relação entre António Costa e Carlos Moedas, mesmo não sendo a cordialidade que a fotografia acima tentará transmitir, estará muito longe da animosidade que Passos Coelho terá querido estabelecer. O que nos leva a um outro assunto a que ele deu destaque e que eu, por acaso, aqui já havia abordado na altura própria no Herdeiro de Aécio. Trata-se da questão do pelouro na Comissão Europeia que é atribuído ao comissário apontado por Portugal. Como se lê mais acima, é opinião de Passos Coelho de que a pasta que foi atribuída à actual comissária, Elisa Ferreira, é a «última coisa que interessa». Não vou querelar a opinião, como já aqui havia escrito, desconfio que, apesar do exagero (ele há pelouros piores!*), ele até terá razão, numa época em que os países mais poderosos da União mandaram a coesão de férias. Mas o que Passos Coelho não diz, e só deixa subentendido, é que se terá tratado de uma despromoção, porque, com ele a negociar, a pasta de Carlos Moedas, a da Investigação, Ciência e Inovação, era muito importante. O que Pedro Passos Coelho não chegou a explicar foi porque, apesar de ter tido tanta importância..., a pasta foi extinta nesta nova Comissão presidida por Ursula van der Leyen.

* O comissário grego tem o pelouro da Protecção do Modo de Vida Europeu (seja lá o que isso for...).

2 comentários:

  1. O jornalismo engajado também no Expresso, para além do Observador. Tal é a antipatia que Rui Rio merece...

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  2. Está a parecer-me que o neo-catedrático está a ficar farto da docência e com saudades, e vontade, de regressar à ribalta. Será?

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