09 fevereiro 2020

AS FAMOSAS LISTAS DE COMUNISTAS DO SENADOR MCCARTHY E QUEM SE OPÔS A ELAS

9 de Fevereiro de 1950. Num discurso proferido numa discreta reunião de mulheres republicanas que teve lugar na pequena cidade de Wheeling (Virgínia Ocidental), o senador norte-americano Joseph McCarthy usa pela primeira vez o expediente de pegar numa folha de papel enquanto comenta: «Embora não tenha aqui tempo para nomear todos os membros do Departamento de Estado que são membros do partido comunista ou de de círculos de espionagem, eu tenho aqui, na minha mão, uma lista de 205 nomes - uma lista de nomes que são conhecidos pelo Secretário de Estado e que, no entanto, ainda continuam a trabalhar e a definir políticas naquele Departamento.» Com este gesto coreografado, que ele irá repetir consecutivamente nos anos que se seguirão (fotografia acima) com pequenas nuances (nomeadamente quanto ao número de nomes suspeitos e quanto às instituições infiltradas...), mas sempre com a mesma acusação, abriu-se a era daquilo que veio a ser conhecido na América pelo "Macarthismo". Mas terá sido preciso muito mais do que um senador ambicioso e sem escrúpulos para que o Macarthismo tivesse existido. Primo, foi preciso que a opinião pública dos Estados Unidos não quisesse aceitar os factos da política internacional, nomeadamente que a sua supremacia mundial, que parecia (e era) indisputada no final da Segunda Guerra Mundial, passara a sê-lo pela Rússia e na China, uns meros cinco anos depois.
Mas foi também preciso uma enorme dose de cobardia dos poderes institucionais dos Estados Unidos para não afrontarem o popular discurso do demagogo que apontava bodes expiatórios internos a torto e a direito, alguns plausíveis, outros absurdos, cobardia essa que passou por todos os ramos dos poderes, o executivo (os presidentes Truman e Eisenhower acobardaram-se), o legislativo (os colegas do Congresso também) e o judicial (os tribunais quase nada fizeram, quando não cooperaram mesmo com as perseguições). A narrativa que mais tarde se veio a adoptar para recontar o que aconteceu ao longo do período, com os seus heróis, como Ed Morrow e o seu Boa Noite e Boa Sorte, tende a passar em claro que o Macarthismo perdurou por uns pujantes quatro anos, período durante o qual o senador chegou a ser eleito para presidir a uma das comissões do Senado, estatuto que ele usou, naturalmente, para melhor promover a sua agenda. O oportunismo e a cobardia políticas não são, por isso, um fenómeno de hoje da política americana (veja-se o cartoon abaixo, o elefante representa o partido republicano). Não é de estranhar assim, que sejam excepções muito excepcionais aquelas que se levantam hoje no partido republicano contra o presidente eleito pelo seu ticket. A História, lá mais para diante, ainda vai dar uma reviravolta ao que agora se passa e Mitt Romney ainda passará a herói, mas para o momento corrente, ele é o vilão.

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