15 dezembro 2007

FUTEBOL CLUBE DE PALERMO

Terá sido António Lobo Xavier** no programa Quadratura do Círculo desta semana a mencionar pela primeira vez, e para acentuar o exagero, a comparação entre a cidade do Porto e a cidade siciliana de Palermo. E já há quem aqui na blogosfera lhe tenha pegado escrupulosamente na palavra, comparando, a traços largos, a situação criminal das duas cidades. E assim, terá sido involuntariamente que Lobo Xavier forneceu este engraçado soundbite aos adversários.
Mas não há dúvida que na Grande Região do Norte Litoral parece ter-se há muito especializado num certo tipo de relação complacente com práticas descaradamente marginais ao que é legal. Desde as maiores irregularidades dentro dos próprios órgãos internos dos grandes partidos políticos (PS e PSD) até a transposição disso para a vida autárquica, com as eleições apoteóticas de Fátima Felgueiras e Valentim Loureiro, parece que há ali um certo tipo de regionalização funcional - embora diferente da do Funchal... Mas quase tudo o que se possa dizer sobre este tema consta do artigo de hoje do Público de José Pacheco Pereira* que, para o rematar, puxa dos seus galões de tripeiro. Onde, muito bem, alerta para a confusão que se quer criar entre aquilo que naquele artigo é designado por o meio, a própria cidade e o seu clube principal. Aliás, o método é prática antiga no meio: recorde-se Vale e Azevedo que pretendia confundir as acusações de escroqueria à sua pessoa com ataques ao Benfica...
A verdade é que parece ter-se esgotado o tempo - e ainda bem ! - para aquelas (falsas) ingenuidades irónicas que, neste caso, acabaram até por se voltar contra o próprio António Lobo Xavier. Mesmo olhando apenas para a parte emersa do icebergue há demasiado tempo que demasiadas figuras pitorescas a gravitar à volta do Futebol Clube do Porto – o guarda Abel, a Carolina Salgado, o emplastro… – que não têm nada a ver com o que se passa nos relvados…

* Ligado quando o autor o colocou disponível. É tão refrescante esta nova encarnação José Pacheco Pereira, facilitando as ligações e reconhecendo que o seu blogue convive na blogosfera com outras entidades semelhantes… Não tarda muito está a assinar os seus comentários...
** Esclareceu-me o José que a analogia entre o Porto e Palermo é muito mais antiga que a referência de Lobo Xavier. Perdeu-se a autoria, mas perdura a menção casual, a pretender-se de uma ironia ligeira. Será Xavier uma das pessoas a que Pacheco Pereira se refere que em público (lhe) dizem que nada disto existe e que está a exagerar, dizem-(lhe) depois em privado para ter cuidado, muito cuidado?

3 comentários:

  1. Caro A. Teixeira:

    Não quero ser demasiado desmancha prazeres, mas antes, muito antes do tal Lobo Xavier, ter mencionado Palermo, já na Loja do Queijo havia referências ao fenómeno.

    Pode comprovar aqui, em Agosto do ano corrente

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  2. Se não quiser clicar, leia a parte final:

    Esta pequena história, ainda não tem epílogo. Nestes últimos anos, Riina foi preso (em Janeiro de 1993); Provenzano também, ( só no ano passado) e quase toda a estrutura organizada da Cosa Nostra, o foi no devido tempo, porque todos os chefes e pequenos chefes foram sendo substituidos. A guerra foi ganha pela ordem estabelecida pelo Estado? Nem por isso.

    Nada disso impediu a Mafia italiana de prosperar, nem evitou a recente onda de assassínios que ocorreram na região calabresa. A Mafia mudou apenas de poiso.

    Segundo os jornais italianos, a mafia calabresa, a NDrangheta, uma designação derivada da noção de homem de valor e coragem, tomou conta dos negócios da droga e de armas, anteriormente e até aos anos oitenta, nas mãos dos sicilianos da Cosa Nostra.

    A Ndrangheta, com poucas excepções ( o juiz Scopelliti e um deputado democrata cristão, António Ligato) nunca cometeu o erro de começar a matar personalidades públicas, como o fez a Cosa Nostra, aparecendo assim como a “irmã menor” da família criminosa mafiosa. Hoje, o polvo calabrês, é o que estende mais os tentáculos, por ser o maior.

    O que mudou a essência e a estrutura criminosa da Mafia, foi a droga e os seus lucros elevados.

    Aqui, em Portugal, as drogas, incluindo as sintéticas, são um negócio que dá lucros, também elevados. As apreensões de mercadoria, pelas polícias, ocorrem na maior parte das vezes, em situação de trânsito, para outros países. Não tem havido incursões nos circuitos internos mais escondidos.

    Na chamada noite, em todas as cidades de Portugal, proliferam os lugares de diverso tipo e modo de estar, junto a um balcão de bebidas. São os bares, de alterne ou de convívio; de prostituição ou de mero engate e ainda de acesso reservado ou franqueado a quem o deseja.

    A gravitar, neste mundo da noite, apareceram há alguns anos atrás, uns maduros de recorte e sem profissão definida que se foram agregando em empresas de segurança, algumas delas profissionalizadas, outras nem tanto.

    A primeira vez que esta fauna da noite, mostrou o seu lado obscuro, de modo literalmente explosivo, foi em Amarante, numa discoteca de Mea Culpa. O balanço trágico, levou directamente à regulamentação legal dos grupos.

    Mesmo assim, algum tempo depois, outro acontecimento trágico, levou a morte à própria polícia de investigação, na mesma zona deste norte de Portugal, com uma violência inusitada.

    Depois disso, falou-se em mafias de leste e em banditagem de alto coturno que anda por aí à solta, a praticar realisticamente, car jacking, o que apenas se via, até então, em jogos virtuais para a play station.

    Em tempos mais recentes, alguma da fauna da noite que se ocupa da segurança, foi inequivocamente associada, no Porto, pelo menos, a um clube de futebol e à sua claque que se borrifa para os apitos dourados. Os seus elementos de segurança privada, fizeram gala de aparecer publica e impudicamente a afrontar os seguranças do Estado que lograram deter e ouvir um dos seus mais dilectos heróis. Este aceitou e não se demarcou da segurança oficiosa, aparecendo bem na sua pele.

    Agora, com estes “quatro assassínios na noite do Porto”, como titula hoje o Público, já não parece haver qualquer dúvida: a noite do Porto, está entregue aos seguranças. Um deles, segurança na discoteca River Caffé, foi assassinado e o River Caffé há anos que deveria estar encerrado. O motivo para a demora administrativa, tem a ver com uma circunstância prosaica: o desconhecimento do paradeiro dos proprietários.

    Protejam-se.

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  3. José:

    Se alcançar a Verdade é o próprio prazer, repô-la nunca o poderia desmanchar. Agradeço-lhe o seu esclarecimento. O seu a seu dono.

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