31 dezembro 2007

A POLÍTICA, ASSUNTO DE FAMÍLIA

Como de certa forma antecipei, apesar dos seus 19 anos, o filho de Benazir Bhutto, Bilawal, foi indicado para suceder à mãe à frente do Partido Popular do Paquistão (PPP). Não foi previsão arriscada de fazer. Em quase todos os despachos das agências noticiosas, divulgados imediatamente a seguir ao seu assassinato, devidamente transpostos como obituários para os vários órgãos da comunicação social e também afixados por alguns blogues aqui na blogosfera da mesma forma igualmente acrítica, se refere como Benazir Bhutto herdara o lugar do pai e se havia tornado a primeira mulher a governar um país muçulmano (1988).
É verdade, mas será daquelas verdades elementares, porque terá sido muito mais importante a antropologia prevalecente no subcontinente indiano para que Benazir tivesse alcançado aqueles lugares. Ali, a política é negócio de família, onde nem sequer existe discriminação dos sexos. É que, para além de Benazir Bhutto, entre os países mais próximos do Paquistão contam-se as seguintes antigas chefes de governo e/ou líderes políticas: Indira Gandhi e a sua nora, Sónia Gandhi, na Índia, Khaleda Zia e a sua grande rival, a Sheik Hasina, no Bangladesh, Sirimavo Bandaranaike e a sua filha, Chandrika Kumaratunga, no Sri Lanka*.
Mas, para quem pense em elaborar considerações sobre o elevado estatuto gozado pela mulher indiana, saiba-se que em todos os casos mencionados acima se tratou ou de viúvas ou de filhas de políticos predominantes**, que receberam os seus cargos por herança, embora haja que reconhecer – como aconteceu, de resto, com Benazir – que houve casos em que as filhas passaram à frente de filhos menos vocacionados para a actividade política. Mas não há ali histórias de mulheres de ferro, cuja ascensão na carreira política foi feita a pulso, como os casos de Golda Meir em Israel ou de Margaret Thatcher no Reino Unido…
Mudando radicalmente de assunto, mas ainda associado às superficialidades que por aí li escritas a respeito deste mesmo assunto do assassinato de Benazir Bhutto, é engraçado ler as considerações de José Pacheco Pereira sobre a mediocridade da blogosfera portuguesa… Ele e outros com a mesma visibilidade dele, parecem que estão habituados, enquanto cronistas de jornal, comentadores na rádio ou na televisão, à impunidade das trivialidades e ocasionais erros do que escrevem ou dizem, enquanto a blogosfera possui aquele enorme inconveniente de nivelar a produção de tais excelências democraticamente com o resto do meio que os cerca… Será que é isso que tanto o(s) incomoda?
* Numa perspectiva do subcontinente indiano, a pioneira a assumir a chefia do governo foi Sirimavo Bandaranaike no Sri Lanka, logo em 1960 (o primeiro caso no mundo), depois foi Indira Gandhi na Índia (em 1966), só depois foi Benazir Bhutto no Paquistão (1988), a preceder de muito pouco (1991) Khaleda Zia, no Bangladesh, outro grande país muçulmano. É essa a ordem das fotografias do poste.
** Que, normalmente, faleceram de morte violenta…

6 comentários:

  1. Nesse caso o facto de ser mulher não tem o significado de transgressão a ditaduras e fundamentalismos que eu e outros lhe deram. Muito interessante.

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  2. JPP tem razão quando perora sobre as não diferenças dos portugueses, dentro e fora do blogger.
    Eu, por exemplo, não o leio no blog e não o ouço na TV, porque ele é igual.

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  3. só hoje tenho eco desta sua referência que agradeço (com um sorriso). E saudando a complexificação do cenário em discussão. E tem razão, há muita simplificação na vertigem do bloguismo diário - e nem sempre só nos bloguistas "populares", a "elite" também a pratica

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  4. JPT, deixe-me também aproveitar esta oportunidade em que está mais "próximo" para o felicitar pel"a sua" ma-schamba.

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  5. Caríssimo:
    grato pela referência.
    E atesto novamente que é isso, precisamente isso, o que os incomoda tanto.
    Abraço,
    CJT

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  6. obrigado. e sabe, deu para recuperar o seu blog, ao qual tinha perdido o rasto há já anos (desculpar-me-á, mas são as coisas do tanto blog). até breve

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