As competições europeias de futebol das décadas de 60 e 70 eram segregadas, mas de uma segregação em três classes que já na altura parecia retrógrada e que nem correspondia à organização das sociedades que emergiam por aquela altura na maioria dos países europeus. Essa versão obsoleta de entre guerras era a das três classes (1ª, 2ª e 3ª) nos transportes ferroviários, dos três níveis de ensino, universitário, liceal e escolar, dos oficiais, sargentos e praças nas forças armadas.
No futebol europeu havia, pela mesma lógica, a Taça dos Campeões Europeus, a Taça dos Vencedores das Taças e a Taça das Cidades com Feira (depois chamada Taça das Feiras e que depois veio a ser a Taça UEFA). Mas as sociedades europeias do pós-guerra estavam a amalgamar-se e mesmo num país como Portugal, a CP, por essa altura, já havia reduzido o número de classes nos seus comboios de 3 para 2, abdicando dos bancos de madeira tão pitorescos da 3ª classe…
Outra característica desta segmentação hierárquica de cada uma das competições europeias de futebol foi a de se ter começado a estabelecer uma certa correspondência fixa entre certos clubes e certas Taças. Exemplificando com Portugal, o clube da Taça dos Campeões era o Benfica, o da Taça das Taças (cada vez mais a Taça dos que tinham tentado ir à anterior, mas falharam…) o Sporting, os da Taça UEFA seriam (nesse tempo) o FC Porto e o Vitória de Setúbal. E essa especialização reproduzia-se Europa fora.
Vencer por mais de uma vez a Taça dos Campeões era tarefa que conferia ao clube vencedor uma certa aura aristocrática (como aconteceu ao Real Madrid, Benfica, Inter, Ajax, Bayern…), enquanto fazer o mesmo feito na Taça UEFA (como aconteceu ao Leeds United ou ao Borussia Mönchengladbach) era apenas como se se reconhecesse os méritos da ascensão social de um self made man, daqueles que nunca poderia aspirar a estar à vontade num salão de alta sociedade.
Mesmo assim tão segregada e estratificada, cada Taça – nomeadamente a UEFA - tinha a sua própria dignidade, onde os frequentadores típicos olhavam com certo desdém os penetras da nobreza que ali haviam ido parar por recurso… Pareciam as Vindimas de 1974, quando o pessoal de muitas quintas do Douro e de outros locais de Portugal descobriu que os patrões, recém-convertidos ao MDP/CDE, os tentava convencer que eles sempre se haviam interessado imenso pela labuta da classe camponesa…
Lembro-me de finais da Taça UEFA empolgantes. A de 1981, por exemplo, entre o Ipswitch Town (inglês) e o AZ 67 Alkmaar (holandês), ganho pelo primeiro por 5-4 nas duas mãos. Foram momentos altos daqueles dois clubes que não perduraram... Só que a Taça UEFA com estes regulamentos actuais, ao receber os repescados da Liga dos Campeões (como o Benfica e o Sporting), pode ter ganho competitividade, mas perdeu aquela dignidade dos pequenos que se divertem entre si, mas excluem os grandes da diversão.
Mais embaraçoso que isso, e continuando a analogia com a Taça UEFA, só a figura de aristocrata decadente feita recentemente pelo Benfica, mais os seus simpatizantes a regozijarem-se por terem conseguido lá continuar a participar…
Outra característica desta segmentação hierárquica de cada uma das competições europeias de futebol foi a de se ter começado a estabelecer uma certa correspondência fixa entre certos clubes e certas Taças. Exemplificando com Portugal, o clube da Taça dos Campeões era o Benfica, o da Taça das Taças (cada vez mais a Taça dos que tinham tentado ir à anterior, mas falharam…) o Sporting, os da Taça UEFA seriam (nesse tempo) o FC Porto e o Vitória de Setúbal. E essa especialização reproduzia-se Europa fora.
Vencer por mais de uma vez a Taça dos Campeões era tarefa que conferia ao clube vencedor uma certa aura aristocrática (como aconteceu ao Real Madrid, Benfica, Inter, Ajax, Bayern…), enquanto fazer o mesmo feito na Taça UEFA (como aconteceu ao Leeds United ou ao Borussia Mönchengladbach) era apenas como se se reconhecesse os méritos da ascensão social de um self made man, daqueles que nunca poderia aspirar a estar à vontade num salão de alta sociedade.
Mesmo assim tão segregada e estratificada, cada Taça – nomeadamente a UEFA - tinha a sua própria dignidade, onde os frequentadores típicos olhavam com certo desdém os penetras da nobreza que ali haviam ido parar por recurso… Pareciam as Vindimas de 1974, quando o pessoal de muitas quintas do Douro e de outros locais de Portugal descobriu que os patrões, recém-convertidos ao MDP/CDE, os tentava convencer que eles sempre se haviam interessado imenso pela labuta da classe camponesa…
Lembro-me de finais da Taça UEFA empolgantes. A de 1981, por exemplo, entre o Ipswitch Town (inglês) e o AZ 67 Alkmaar (holandês), ganho pelo primeiro por 5-4 nas duas mãos. Foram momentos altos daqueles dois clubes que não perduraram... Só que a Taça UEFA com estes regulamentos actuais, ao receber os repescados da Liga dos Campeões (como o Benfica e o Sporting), pode ter ganho competitividade, mas perdeu aquela dignidade dos pequenos que se divertem entre si, mas excluem os grandes da diversão.
Mais embaraçoso que isso, e continuando a analogia com a Taça UEFA, só a figura de aristocrata decadente feita recentemente pelo Benfica, mais os seus simpatizantes a regozijarem-se por terem conseguido lá continuar a participar…
Antigamente, era a Taça dos Campeões Europeus, com o sortilégio e a emoção de jogos a eliminar.
ResponderEliminarHoje, é a Liga dos Campeões, a Liga dos Milhões, com os grupos escolhidos a dedo, mais jogos, mais arranjinhos, mais receitas televisivas.
Curuioso é todos os nossos poliglotas da bola falarem da "Champions", sempre em inglês.
Tem o Herdeiro toda a razão, foi patético ver o Benfica em delírio pela qualificação por uma competição menor.
Sinal dos tempos.
Ou dos timings, é mais fino...
Em delírio!
ResponderEliminarA palavra diz tudo porque o futebol, nacional e internacional, não passa, cada vez mais, de um delírio de milhões e não estou a falar de espectadores mas de euros.
Talvez por isso só perca, na corrupção caseira, para as autarquias e para a Justiça: vai ao pódio, mas fica-se pela medalha de bronze.
Como se dizia nos meus tempos de criança: "Que se lixe a taça...".
Quanto a futebol internacional de clubes, nós três já podemos fundar um Clube dos Nostálgicos submetido ao mote: Isto Agora Tem Muito Menos Piada!
ResponderEliminarEstimado Historiador,
ResponderEliminarFazer esta posta, que gostei muito, omitindo que na Aristoracia Portuguesa, existem uns "Gauleses" lá de uma aldeia do norte, que "só" têm 2 títulos de Campeão do Mundo, dois títulos de Campeão Europeu e uma Taça UEFA, é obra...
Um abraço com estima
Mesquita Alves
A injustiça é bem maior do que refere, pois os clubes omitidos são bem mais que os mencionados - Barcelona, Inter, Manchester United,...
ResponderEliminarOutra verdade é que quando o FC Porto começou a ganhar esses títulos (1984 - finalista vencido da Taça das Taças; 1987 - vencedor da Taça dos Campeões) já aquela ordem social que descrevo estava a desaparecer.
Uma terceira verdade, esta talvez mais subjetiva, é que considero que o FC Porto das décadas de 60 e 70 (o período em referência no poste), até à chegada de Pedroto, foi uma equipa de classe UEFA, equivalente ao Vitória de Setúbal.
É por demais evidente que o seu FC Porto foi a equipa portuguesa que melhor se modernizou. Para contestar essa afirmação é preciso ter mais alguns "atributos" para além de se ser do Benfica (ou do Sporting)...
Mas a ideia nuclear do poste, é o de expressar o meu desacordo pela aceitação na disputa da Taça UEFA de clubes que são um subproduto da disputa da Liga dos Campeões.
NMão houve qualquer "delírio", antes um sorriso por ser ver que a eliminação das competições europeias não foi tão prematura como se previa.
ResponderEliminarainda fazendo comparações com classes decadentes, se a que está na posta se aplica ao Benfica, então o Porto sempre poderá ser o novo-rico que se ostenta as suas posses mas à mesa fica angustiado por não saber como usar os talheres :)