Tenho imensa pena de não ter conseguido encontrar nenhum sítio na Net em que se possa ouvir o jingle do anúncio televisivo da Brasa (acima) dos inícios da década de 70, o que necessariamente limitará os destinatários deste poste àqueles que hoje tenham mais de 30 anos… A caixa de comentários está aberta a referências. De qualquer modo, aqui fica a letra do anúncio:
- Parece que é! - Mas não é!
- Que gosto, que satisfação!
- Brasa é a bebida que aquece o coração!
- Cevada, chicória e centeio,é a sua composição…
- Brasa é a bebida que aquece o coração!
- Brasa é a bebida que aquece o coração!
Como se depreende, Brasa era um composto em pó que se adicionava à água ou ao leite fazendo-se passar por uma espécie de café. Trata-se de uma bebida típica da Europa continental que muitas vezes se vira privada no passado (o bloqueio continental da época napoleónica, a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais…) do acesso a produtos tropicais como o açúcar e o café.
Ora Portugal tinha uma história totalmente distinta: fora a potência colonial do maior produtor mundial de café da época (Brasil) e ainda era, na altura, a potência colonial do quarto maior produtor mundial (Angola). Geralmente, nunca faltara matéria-prima, e era (e ainda é) patente como o café faz parte dos hábitos alimentares dos portugueses. Mas releia-se atentamente a letra do jingle…
Se beber café se tornou nacional, passar por mais esperto que os outros é nacional desde a alvorada da nossa história… Usar cevada, chicória e centeio torrados e fazê-los passar por parecerem que é o que não é, para além de ser mais barato, reconforta-nos na alma portuguesa de uma forma que nem o cafezinho é capaz de fazer… Os meus cumprimentos (tardios) aos autores da campanha...
Ora aqui está algo que posso comentar.
ResponderEliminarLembro-me perfeitamente do jingle publicitário e da música que acompanhava esta letra espantosa.
Agora lá que a cevada, a chicória e o centeio, substituam o café, só mesmo na imaginação dos publicitários e na vontade dos investidores no produto.
Mas que se vendia... vendia!
ResponderEliminarAté tinha entrado no vocabulário corrente a palavra "cevadé".
A promoção ao Brasa, e a imposição de padrões de consumo do centro europeu que não eram nossos, pode funcionar como uma metáfora da legislação de Bruxelas cuja implementação a ASAE anda a fiscalizar.
ResponderEliminarDe facto, baptizar um "balde" de uma bebida feita de cevada torrada e adoçada com aquela coisa que se extrai da beterraba com o nome de "café" pode ser considerado obsceno e insultuoso na terra do "cafézinho".
Ao fim destes quase 25 anos, nós não enriquecemos com os fundos deles e eles continuam a insistir que aquela beberagem passa por café...
Digam lá se esta história do Tratado não parece um daqueles namoros onde se avança para o casamento quando as coisas começam a "azedar"...
Uma linda "fuga para a frente"!
ResponderEliminarPor mim, continuo a achar que o melhor café é o da "Pérola do Rossio" promovido por José de Oliveira Cosme no seu inesquecível programa "A vida é assim", aos domingos, no Rádio Clube Português,à hora do almoço.
ResponderEliminarEle era o João, ela a Mary.
Estou a ficar velho, é o que é...