
Houve muitos milhões envolvidos nesse enorme fluxo de refugiados, que fluíam em sentidos cruzados (também havia hindus* e sikhs** que abandonavam as regiões do futuro Paquistão para se estabelecerem na Índia) e, no caso do Paquistão, as suas características comuns acabaram por fazer deles, e dos seus descendentes, mais um grupo cultural distinto dentro da nova nação que então se formava. São conhecidos por mohajirs - a palavra original é árabe e significa migrante – e distinguem-se pelo facto de usarem o urdu, que é idioma oficial do Paquistão.

A interferência histórica dos militares na vida política paquistanesa prolongou o destaque desproporcionado dos mohajirs nela. Dadas as tensões culturais das várias nações existentes dentro do Paquistão, os mohajirs arrogaram-se um certo direito de serem os intérpretes privilegiados de quais serão os factores de identidade nacional. É um problema paquistanês, velho de 60 anos, porque, para além da religião muçulmana, pouco mais parece existir de afirmativo naquele conjunto: o resto só faz sentido se equacionado como oposição ou alternativa à Índia…

Só que o tempo passa, e as leis da vida, inexoráveis, estão a fazer desaparecer os verdadeiros mohajirs: Musharraf nasceu já em 1943, em Deli, a capital da Índia, e tinha apenas 4 anos por altura da partição e das independências. Agora, a designação de mohajir está a transferir-se para aqueles, como é o caso de Shaukat Aziz, que foi primeiro-ministro entre 2004 até ao mês passado e que já nasceu em 1949, mas em Karachi, para os descendentes daqueles que, originalmente, se arrogavam a superioridade moral de terem sofrido os desconfortos de terem escolhido a sua nacionalidade…

Mas a expressão perdeu quase todo o conteúdo político distinto que conteve durante o primeiro meio século da História do Paquistão e trata-se cada vez mais de uma designação aplicável a mais uma nação de um país composto por várias (punjabis, pashtuns, sindis, baluches,...) e que parece não conseguir descortinar razões válidas para assim permanecer, a não ser uma regra precautória, estabelecida pela comunidade internacional, que estabelece que, ao contrário do que aconteceu à Jugoslávia, os países com armamento nuclear não se podem desagregar…

** Foi o caso da família do actual primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, que vivia no Noroeste do Punjabe.
*** Embora Jinnah não fosse, tecnicamente, um mohajir, porque nascera em Karachi, pertencia a uma família de origem gujarati (e o Gujarate ficara a pertencer à Índia) e morara, desde há décadas, em Bombaim (que também ficara a pertencer à Índia).
Aprender, aprender sempre!
ResponderEliminarDesejo-lhe um excelente 2008.
Agradeço-lhe o comentário e retribuo-lhe os votos de um excelente 2008 para si a que adiciono os de muitos postes no seu "Bons tempos".
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