07 julho 2014

O RELÓGIO DO CALIFA


Ao exporem publicamente os seus líderes, os movimentos subversivos transitam para um outro campo de batalha, o mediático. Os insurrectos islâmicos sunitas que têm feito perigar o regime iraquiano correram esse risco quando apresentaram este vídeo com a pregação do seu califa Abu Bakr al-Bagdadi (أبو بكر البغدادي). O regime iraquiano reagiu de forma convencional, levantando dúvidas de que a pessoa que aparece no vídeo é quem pretende ser. Porém, uma outra forma mais imaginativa de o(s) contra-atacar foi concentrar-se na opulência do relógio (Rolex? Omega?) do orador quando em contraste com o conteúdo do seu discurso. Mas substantivamente, as notícias que circulam no Ocidente a respeito do novo califa nem sequer se dão ao trabalho de tentar especular sobre quais as possíveis razões para a adopção daquele nome de Abu Bakr,…
...o mesmo do primeiro califa sucessor de Maomé (632-634), figura respeitável mas que teve um reinado demasiado curto (ao contrário, por exemplo, do seu sucessor Omar, o verdadeiro fundador do império árabe) para que a adopção do seu nome pretenda representar algo mais do que uma mera intenção de retorno à simbologia primitiva do Islão. É nesse sentido que o relógio ou a ventoinha que o refresca podem revelar-se interessantes armas de arremesso. Apesar das ambições norte-americanas para a região, percebe-se uma profunda incompreensão recíproca entre povos, simbolizável por esta fotografia de Abril de 2005, onde vemos George W. Bush a passear de mão dada com Abdallah, então ainda o príncipe-herdeiro saudita, num significativo gesto de amizade nos países árabes, com um significado equivocamente diferente nos Estados Unidos...

2 comentários:

  1. Mesmo que tenha permanecido no poder apenas alguns meses, Abu Bakr foi um vingador, e talvez só por isso seja lembrado como califa.
    E certamente a mensagem do califado é hoje de de uma violenta vingança.

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  2. É uma boa explicação possível, parabéns.

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