01 julho 2014

SOTIRIOS GOTZAMANIS

Antes de Vítor Gaspar (1960- ) já a Europa tinha assistido à emergência de vários ministros das Finanças nos países periféricos que se haviam destacado pela sua germanofilia. Sotirios Gotzamanis (1884-1958, acima) foi um desses exemplos, um fervoroso admirador de sempre da Alemanha (já o era durante a Primeira Guerra Mundial, quando fora deportado para uma das ilhas gregas por essa razão), que ficara com o pelouro das Finanças gregas durante o governo grego de colaboração com o Eixo durante a Segunda Guerra Mundial (1941-43). A personalidade forte de Gotzamanis impusera-se, cognominado inicialmente como o ditador da economia, mas o cognome de nada lhe terá valido durante os dois anos em que ocupou a pasta. As suas visitas a Berlim (e a Roma) em Setembro de 1942 saldaram-se por um fiasco quanto à alteração das condições inicialmente impostas pelos vencedores em Abril de 1941, nomeadamente quanto à redução dos custos de ocupação que o forçaram à emissão de cada vez mais papel-moeda, provocando o aumento progressivo da inflação - 13.800% em Novembro de 1944!

Simbólico da forma humilhante como era tratado, e não apenas quando os alemães faziam de anfitriões, em Maio de 1942, quando de uma visita sua a Salonica (a segunda cidade grega), viu-se objecto de um desagradável incidente diplomático com as autoridades militares alemãs de ocupação da cidade. Coincidindo com a visita, houve um oficial alemão que apareceu morto num passeio de uma das ruas da cidade. Os alemães cancelaram de imediato o jantar oficial entre o ministro e o general Kurt von Krenzski, o governador militar, e ameaçaram estabelecer um recolher obrigatório restritíssimo em toda a cidade enquanto os gregos não prendessem os responsáveis pelo acto. Foi só depois de a autópsia revelar que se tratara de um suicídio (o oficial atirara-se de uma janela) que os alemães embaraçadamente remarcaram o jantar, mas sem sequer oficializar um pedido de desculpas. Brilhante académico, apenas com algumas lacunas, estou desconfiado que Vítor Gaspar nunca deve ter ouvido falar deste seu longínquo colega grego. Para o nosso interesse nacional, também não sei se teria interessado que soubesse…

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