Este cartaz em negro de luto pareceria perfeitamente enquadrado numa actual ofensiva política dos comunistas contra o actual governo de Passos Coelho, até atentarmos no preâmbulo superior com um dizeres (Após um ano de governo PSD Cavaco Silva…) que o remetem para finais de 1986, há quase 28 anos. A descrição da situação do país é, como costume em todos os cartazes do PCP, catastrófica. Escreve-se haver mais de um milhão de desempregados – e depois percebe-se como a redacção da frase é enganadora: esse milhão é afinal composto pelos desempregados e os que têm salários em atraso ou os que têm contratos a prazo. Na verdade, e como se vê pelo gráfico abaixo, em finais de 1986 já a taxa de desemprego estava a baixar depois de ter atingido um pico de 400 mil desempregados em 1984-85 - mesmo assim são menos de metade dos existentes nos dias que correm! E uma consulta ao Pordata esclarece-nos adicionalmente que a situação actual é socialmente muito mais trágica, não apenas porque a taxa de desemprego é sensivelmente o dobro da daquela época (9,0% em 1986 para 17,0% em 2013), mas por incidir muito mais substancialmente nas classes etárias mais velhas¹, que têm muito mais dificuldades em reingressar no mercado de trabalho.
Mas a solução que o PCP nos oferece parece ser a mesma de sempre, independentemente das circunstâncias, agora como há 28 anos atrás: é urgente mudar de política! é urgente mudar de governo! Governo Rua! – é o que se lê no cartaz precisamente a mesma substância da mensagem do comité de boas vindas que os comunistas organizaram ainda ontem para Pedro Passos Coelho à sua chegada a Castelo de Paiva. Os slogans dos comunistas parece não precisarem de ser mudados, aconteça o que esteja a acontecer em Portugal, aconteça o que tiver acontecido no Mundo. Em 1986 os comunistas promoviam ainda um modelo social que, falho de se conseguir reestruturar, entretanto colapsou. Depois disso, reforçando o carácter religioso da organização, fingiu-se que nada tiveram a ver com aquele modelo social fracassado e promovem agora uma espécie de sociedade utópica que ninguém (nem mesmo Lenine!) conseguiu erigir. Ao longo destes 28 anos entretanto decorridos os comunistas do PCP já bradaram pela existência do lobo com igual entusiasmo denunciador, chamasse-se o lobo Cavaco, Guterres, Barroso, Sócrates ou, agora, Passos Coelho. Há quem queira ver nisso coerência: eu só vejo nisso uma completa fossilização política. Âmbar vermelho, bonito é verdade, mas fóssil apesar de tudo.
¹ Comparação das taxas de desemprego em 1986 e 2013 por grupo etário: 15-19 anos 21,2% - 53,5%; 20-24 anos 19,5% - 34,6%; 25-29 anos 10,9% - 21,9%; 30-34 anos 7,3% - 16,8%; 35-39 anos 5,6% - 14,2%; 40-44 anos 5,0% - 14,4%; 45-49 anos 4,2% - 13,8%; 50-54 anos 3,9% - 13,8%; 55-59 anos 2,8% - 14,3%; 60-64 anos 1,7% - 12,9%.
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