Esta fotografia de Janine Nièpce conta-nos uma história: a de uns pais de classe média, presumivelmente franceses, preocupados em dar cultura a um filho seu. Tirada num dia que deduzimos festivo (o do aniversário?), vemos o seu quarto cheio de amigos e uma parede forrada de referências culturais, desde um cartaz de promoção do filme A Flauta Mágica (1975) do realizador sueco Ingmar Bergman (uma referência que cai sempre bem citar...) até um outro a seu lado referente ao pós-impressionismo. Sentado, um dos amigos lê uma das aventuras de Lucky Luke, uma que envolve os Dalton, mas é a réplica – muito pouco cultural – de uma Winchester que concita a atenção e a cobiça generalizadas. Todos adivinhamos que, ao crescerem, os protagonistas terão perdido aquela espontaneidade, como acontece de resto com os 21 políticos portugueses que se dispuseram a nomear as suas leituras de férias para o Observador. O meu destaque positivo vai para Nuno Magalhães do CDS que ali confessou com o mesmo despojamento juvenil da fotografia acima que vai ler predominantemente A Bola. Entre os 20 restantes há alguns que se tornam dolorosos pelo pretensiosismo: como quem vai refrescar a memória com História do povo na revolução portuguesa, de Raquel Varela (uma frescura certamente); ou então irei seguramente regressar ao D. Quixote, de Cervantes em espanhol (será no castelhano setecentista original?); e ainda um terceiro que vai ver se me lanço na empreitada do Ulisses de Joyce, que comecei a ler há uns tempos (não haverá aqui um certo tom de expiação?).
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