David Pacífico (1784-1854) foi um comerciante de ascendência portuguesa judaica que, tendo nascido em Gibraltar, se veio a estabelecer em Atenas, tornando-se em mais um daqueles inúmeros comerciantes que teciam e mantinham as linhas comerciais que de há Séculos sempre subsistiram nos portos que rodeavam o Mediterrâneo. Em homenagem às suas raízes, o comerciante era o Cônsul de Portugal em Atenas onde era conhecido por Don Pacífico, um título com ressonâncias de ladino seiscentista, aquele que permanecera o idioma materno dos judeus expulsos da Península.
Em 1847, durante uma manifestação anti-judaica, houve uma turba que assaltou e saqueou a casa do respeitável Don Pacífico. Considerado o seu estatuto, tratava-se de um óbvio incidente diplomático, às queixas do qual o governo grego fez orelhas moucas, para mais quando entre os assaltantes se contavam os filhos de um dos ministros do governo grego. Passou-se um ano e em vista da impotência dos esforços diplomáticos do governo português, Don Pacífico apelou então para o governo do Reino Unido como súbdito de Sua Majestade, considerada a sua naturalidade gibraltina. O pedido veio mesmo a tempo e a jeito dos desejos de Lord Palmerston (acima), que se mostrava desejoso de exercer uma política externa mais pró-activa no Sudeste da Europa. O Reino Unido assumiu como seu o pedido de indemnização que Don Pacífico apresentara ao governo grego e uma esquadra da Royal Navy veio bloquear o Pireu (o maior porto da Grécia que também serve Atenas) até que a indemnização fosse paga. O bloqueio durou dois meses e a indemnização foi mesmo paga. Mas o mais importante é que o Reino Unido mostrou que fizera prevalecer a sua vontade…