25 agosto 2011

AS CARAS «AMIGAS» DOS COMÍCIOS DE AMIZADE

O alinhamento estratégico de Portugal durante a Guerra-Fria, consequência da sua localização geográfica, fazia com que, mesmo depois do 25 de Abril, o PCP fosse um partido que estava naturalmente isolado, pertencendo a um país da Europa ocidental mas com os seus aliados concentrados no Leste. Uma das formas encontradas para contrariar essa situação em termos de imagem era a promoção de eventos intitulados Comícios de Amizade envolvendo a presença de algum convidado destacado de um partido irmão proeminente, conforme se pode apreciar nestes três cartazes.
Os cartazes aparecem por ordem cronológica. O comício com o secretário-geral do Partido Comunista Francês (PCF) teve lugar em Novembro de 1974 e, como partido comunista de uma democracia ocidental, é certamente o apoio mais aproximado dos três, antes das controvérsias do eurocomunismo (1977) terem tornado os partidos dos países latinos do Sul da Europa ideologicamente suspeitos. O PCP teve que se virar para esse farol ideológico que era o PCUS da União Soviética (Maio de 1977) ou então para aquele bastião da ortodoxia que era o SED da Alemanha Oriental (Outubro de 1981).
Os cartazes mostram também a evolução estética ao longo desses sete anos. De uma simbologia e grafia mais primária associando a simbologia tradicional dos punhos cerrados, as foices e os martelos e as cores nacionais, o estilo parece encaminhar-se para uma maior sobriedade. E também para uma menor militância: os comícios passam do Pavilhão dos Desportos em Lisboa para a Casa da Cultura dos Trabalhadores da Quimigal no Barreiro... Mas, tão engraçado quanto os cartazes, vejam-se as fotografias daqueles que os partidos escolheram para os representar nos Comícios de Amizade.
Aí, apesar da matriz ideológica comum a todos eles, percebia-se como a Europa estava culturalmente dividida por uma verdadeira Cortina de Ferro. Acima, Georges Marchais (1920-1997), que foi o secretário-geral do PCF entre 1972 e 1994, era um político desenvolto, clássico, na tradição ocidental, habituado a defrontar-se com uma informação que lhe era hostil. Mas os partidos comunistas que ocupavam o poder no Leste não podiam enviar representantes de igual grandeza já que os dirigentes partidários do topo das suas hierarquias ocupavam também as funções principais do Estado.
Isso dava oportunidade a que os apparatchiks sem proeminência como era o caso do russo Vladimir Dolguikh (n. 1924 – e não Dolguih como, por lapso, aparece no cartaz) ou do alemão Hermann Axen (1916-1992) aparecessem nos tais Comícios de Amizade como se se tratasse de camaradas muito importantes. As suas fotografias institucionais, transbordando amizade e internacionalismo proletário (acima a do russo, abaixo a do alemão) possuem aquele estilo neo-clássico marxista-leninista que ainda hoje deve deixar imensas saudades na sede do PCP na Soeiro Pereira Gomes…

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