02 agosto 2011

SOBRE O ORGULHOSO ANALFABETISMO INFORMÁTICO ENTRE AS ELITES PORTUGUESAS

Dos 50 mil médicos a trabalhar no país, mil já terão comprovado a sua inaptidão informática para passar prescrições electrónicas.
Desconfio que quem escreveu a frase acima no Diário Digital nem sequer a releu – muito menos percebeu o alcance daquilo que escrevera. Pelo menos 2% dos médicos a trabalhar no país confessam-se inaptos informáticos – se atendermos à redacção da notícia e ao cuidado como foi utilizado o advérbio, até se pode tratar apenas dos pioneiros de um amplo movimento de reconhecimento de analfabetismo funcional informático entre os membros da classe médica. Devidamente explorado, que não nesta forma de dar destaque ao boicote à introdução do processo das receitas electrónicas, trata-se de um grande furo jornalístico

Então os clínicos confessam-se incapazes de passar uma receita electrónica – um gesto que se assemelhará em complexidade informática ao de qualquer operação numa caixa multibanco – e podem continuar a exercer? O exercício daquela profissão não pressupõe uma formação continuada? A inaptidão informática que confessam não será sintoma de uma desactualização irreversível, passível de afectar decisivamente a qualidade do acto médico? Como é possível, por exemplo, que um médico com a falta de conhecimentos rudimentares de informática possa prescrever um exame como uma TAC (Tomografia Axial Computorizada)? Como é, prescreve o exame, embora não perceba rigorosamente nada de como aquilo funciona, ou então não prescreve porque ainda não teve tempo para se dedicar a essas coisas dos computadores (sic)?...

Em síntese, e esse é que é o grande furo jornalístico do artigo do Diário Digital citado acima, é que para além da constatada falta de médicos em Portugal parece acrescer o problema que haverá uma fracção dos que assim se intitulam que nem sequer deviam exercer…

É evidente que no universo dos 50 mil médicos do país, por muito que o seu órgão da classe se assuma como uma das elites deste país, há-de haver o seu contingente de medíocres. Mas torna-se embaraçoso que os médicos e, sobretudo, o bastonário da classe seja utilizado como peões de brega neste conflito das receitas electrónicas que não é um conflito que os envolva directamente: trata-se obviamente de uma guerra comercial entre o Estado e as farmacêuticas, com estas a anteverem uma sensível perda de receitas por causa da introdução do novo processo.
Mas, mais do que embaraçoso, é vergonhoso que nessa guerra alheia à classe, os seus dirigentes se deixem manipular a ponto de aceitarem galhardamente a figura retrógrada de alguns dos seus associados. Haja quem reaja...

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