Quase todas as crianças terão passado pela fase de juntar caricas. E o Verão é a época apropriada para o fazer com o aumento do consumo de águas, cervejas e refrigerantes. Depois, passa-se à fase aborrecida onde os pais as mandam desfazer-se daquela enorme pilha inútil e tilintante antes de serem obrigados, numa maioria das vezes, a fazê-lo eles próprios. Há quem considere, caridosamente, que essa fase é um prenúncio do gosto pelo coleccionismo. Eu considero-a uma outra coisa: um ressurgimento comportamental duma atitude que nos foi muito útil na nossa fase paleolítica de recolectores mas que neste estádio da civilização já se tornou desnecessária.
Quem colecciona, não só sabe, como sabe explicar-nos as razões para a adição de cada nova peça à sua colecção. De quem recolecta (há muito mais do que caricas...), a resposta mais elaborada que se consegue obter é um nunca se sabe se não há-de vir a ser útil. É que há quem chegue a adulto mantendo essa compulsão para as colecções de caricas, conforme se pode apreciar também na blogosfera. Séries de postes intitulados as cem melhores praias portuguesas ou trinta mais trinta cidades que jamais esquecerei, embelezados com uma fotografia mas sem explicações adicionais assemelham-se ao desvelo com que a senhora junta conchinhas na cena abaixo de As Férias do Sr. Hulot…
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