25 janeiro 2008

O FIM DO PRINCÍPIO?...

Now this is not the end. It is not even the beginning of the end.
But it is, perhaps, the end of the beginning.

Winston Churchill

As palavras foram proferidas pelo Primeiro-Ministro britânico durante a Segunda Guerra Mundial, comentando o impacto da vitória das suas Forças Armadas em El Alamein, no Norte de África (Outubro de 1942). Parece-me ser uma das formas mais subtis mas mais cautelosas de demonstrar que se atingiu um ponto de inflexão irreversível na tendência dos acontecimentos. No caso do curso daquela Guerra, foram palavras que vieram a tornar-se proféticas: até ali os britânicos quase só tinham acumulado derrotas militares; a partir daí quase só registaram sucessos.
Não terei a presciência de Churchill, posso estar a ser induzido em erro por convicções ideológicas, mas creio que os acontecimentos financeiros de impacto global dos dias que correm – reforçados pelas opiniões de pessoas que prezo, porque já demonstraram que sabem actuar, além de opinar – parecem-me que contêm indícios de elementos de mudança quanto à aceitação indiscutível da legitimidade conferida pela posse do capital na direcção da sociedade. Embora não se possa cair no exagero de querer ver em cada percalço destes os sinais do fim do capitalismo, qual retorno do Cristo salvador
Aquilo a que me refiro parece ser mais subtil, aparece-nos difusamente na forma abertamente intervencionista como o Estado português procurou solucionar o caso BCP, sem grandes protestos dos vários Portugais liberais*, ou na forma preocupada como a última edição da revista The Economist alerta para a fragilidade em que grande parte do sistema bancário norte-americano actualmente se encontra, à mercê das injecções de capital dos Fundos Soberanos que, conforme se pode ver pelas bandeiras da capa acima, têm a deficiência notável de nem todos obedecerem a soberanias tradicionamente respeitáveis…
Esses indícios de desrespeito pelas regras do mercado, de falta de reverência pela legitimidade dos detentores do capital, podem despontar ainda em sítios ainda mais improváveis, que são insuspeitos de motivações ideológicas. Podem ser os cartazes dos adeptos do Liverpool que, como se pode ver na fotografia acima, se querem ver livres dos patrões norte-americanos do clube e trocá-los por um daqueles Fundos Soberanos, de um dos Emiratos Árabes (Dubai), independentemente dos primeiros não se mostrarem interessados em ceder a sua posição.
Ora contestar descaradamente as autoridades patronais, era coisa que blogues típicos desta última geração do liberalismo iam buscar às vetustas imagens de arquivo da RTP no PREC, mostrando um tempo que parecia haver já sido esquecido, em que o poder económico tinha que ter cuidado com o poder político... Não são esses tempos que voltarão, mas para o liberalismo, a globalização inexorável** e toda a ideologia que lhe está associada, disfarçada de leis económicas irrefutáveis, parafraseando Churchill, esta fase que atravessamos pode não ser o fim, pode não ser até o principio do fim, mas bem pode ser o fim do princípio…

* O Compromisso, o Positivo, enfim esses...
** Também as nacionalizações eram irreversíveis

3 comentários:

  1. Reconheço a excelência do post, independentemente da particularidade da "leitura".

    Pode (também) ser o princípio do meio, só que não há meio de se vislumbrar até onde "isto" pode ir.

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  2. Agradeço os vossos cumprimentos.

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