O Festival da RTP de 1979 conseguiu concentrar como nenhum outro, antes e depois, a disputa triangular entre três tipos distintos do gosto nacional, identificados por uma classificação que ainda hoje terá a sua validade. Por um lado, havia aquela tradicional vanguarda esclarecida dos trabalhadores intelectuais, muito forte desde 1974, e representada naquele Festival por Pedro Osório, Samuel e Carlos Alberto Moniz, constituídos num grupo ad-hoc, como foi moda a certa altura*, denominado SARL, apresentando Uma Canção Comercial.
Mas o prémio maior, resultado da votação do júri nacional**, foi parar a uma canção despretensiosa, com um título e uma letra correspondentes (Sobe, Sobe, Balão Sobe), com uma intérprete (Manuela Bravo) vestida com um modelo que quase se podia apostar que havia sido concebido para poder ser facilmente imitado pelas costureiras do bairro… Enfim, um verdadeiro regresso ao passado antes de 74 (o autor, Nóbrega e Sousa, havia ganho o Festival de 1965…) e às verdadeiras origens populares, sem ideologias, num verdadeiro momento TVI antes dela existir…
* O Festival de 1977 foi ganho por um conjunto assim, designado por Os Amigos: Paulo de Carvalho, Fernando Tordo, Ana Bola…
** Ainda me lembro de ouvir Pedro Osório contestar a designação de nacional do júri, contrapondo ao critério tradicional dos distritos, o sociológico da cartilha comunista da época: tantos por cento de operários, tantos por cento de camponeses, tantos por cento de intelectuais… O PCP ainda iria atingir, no final daquele ano de 1979, o zénite da sua votação popular (1.120.000 votos), mas adivinhava-se já a saturação em relação ao seu discurso tradicional…
Creio que o PCP saturou porque se aturou em demasia, até cansar quem (ainda) acreditava nele.
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