14 janeiro 2008

ADRIAEN BROUWER E JOHANNES VERMEER

Adriaen Brouwer (1605-1638) e Johannes Vermeer (1632-1675) contam-se entre os meus dois pintores favoritos da escola flamengo-holandesa do Século XVII. E, no entanto, pertenceram a gerações diferentes, tiveram origens diferentes, provavelmente caracteres também muito diferentes que os fizeram viver vidas diferentes, o que acaba por se reflectir nas obras que nos legaram para a posterioridade.
Johannes Vermeer, embora seja mais novo, veio a tornar-se mais famoso que Brouwer: para quem privilegiar o lado técnico na apreciação das obras dos dois, o trabalho de Vermeer superioriza-se nitidamente pela mestria com que ele utiliza e domina a luz e a cor. Mesmo não se sabendo muita coisa sobre a sua vida pessoal, percebe-se logo no seu trabalho como Vermeer deve ter sido uma pessoa atinada, um burguês holandês.
Um quadro de Vermeer típico (veja-se aqui uma compilação da sua obra – três dúzias de quadros são-lhe atribuídos) é um retrato realizado no interior de casa, mas onde o pintor não se mostra muito próximo do modelo, nem este se costuma mostrar particularmente expressivo, com a luz natural incidindo de uma janela da casa, situada do lado esquerdo. Vermeer nasceu e viveu em Delft, ali casou, onde teve 14 filhos.
Contudo, no final da vida esta correu-lhe mal e Johannes Vermeer morreu endividado e a família teve de vender grande parte da sua obra. O seu estilo de pintura tão canónico tornou-o uma presa ideal de um falsificador genial do Século XX chamado Han van Meegeren, que, em vez de copiar os seus quadros, criava quadros novos ao estilo de Vermeer, que depois vinham a ser atribuídos ao pintor seiscentista pelos especialistas
Todos os predicados de um quadro de Vermeer, não me fazem esquecer que uma obra sua, mesmo quando retrata um executante de um qualquer instrumento musical, parece não ter som… Passa-se o oposto com as obras de Adriaen Brouwer. Sobre Brouwer ainda se sabe menos do que sobre Vermeer. É de origem flamenga e foi discípulo de Frans Hals em Haarlem, de cuja tutela diz uma das histórias/lendas, se evadiu…
Os temas dos quadros de Brouwer dão a entender quanto, a ter existido, o problema teria sido mais do tutelado do que do tutor… À placidez e ao silêncio dos quadros de Vermeer, nos quadros de Brouwer está sempre a acontecer qualquer coisa que provoca uma banda sonora imaginária, normalmente cacofónica… Mas, como se pode ver aqui numa dezena de exemplos, os figurantes costumam ter uma expressividade que falta em Vermeer.
Adriaen Brouwer morreu jovem, com 32 ou 33 anos, em Antuérpia e provavelmente em muito piores condições que Vermeer que afinal, era apenas um burguês falido, enquanto Brouwer terá morrido como um indigente. Mas, sem propriamente ter um auto-retrato, poucos pintores se podem orgulhado de terem sido autores de um quadro que descreva tão sucintamente a vida e obra do autor como este quadro intitulado O Tónico Amargo aqui acima…

8 comentários:

  1. Vermeer, um dos meus preferidos.
    Desde “A leiteira” a “O Geógrafo”, passando por “ A guitarrista”, sempre o mesmo rigor técnico, a atenção do pormenor.

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  2. Adriaan Brouwers (1605-1638) nasceu em Oudenaarde, flandres. Viveu uma vida libertina e sempre tinha faltar de dinheiro. Teve de fugir da Flandres por causa da sua resistência contra a ocupação espanhola na Flandres pelos tropas do rei Filipe de Espanha, também conde de Flandres. Na Holanda o pintor tornou se também um actor abençoado e tinha nos dois disciplines grande êxito na Amesterdão e Haarlem .Que fosse discípulo de Frans Hals ! Isto não pode notar nas suas obras. Cheio de saudades e provavelmente de porta-moedas vazio voltava para Antuérpia (1631). Por causa da sua fama não tem falta de ordens mesmo Pieter Paulus Rubens tinha comprado para sua colecção privada pinturas de Adriana Brouwers (no total de 16 obras) O Adriana acabou a vida (1638) como tinha vivido, cobrado de créditos, os seus amigos têm pagado o funeral dele.
    cumprimentos de Antuérpia

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  3. Obrigado pelas apreciações, elogio e esclarecimentos.

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  4. Pelos dois trabalhos reproduzidos, parece-me que Brouwers está mais perto de Rembrandt que de qualquer outro elemento da escola flamenga.
    Não tenho quaisquer dados que me permitam ter outra opinião - Brouwers era um nome desconhecido para mim até ler este "post"... e tive que fazer "História da Arte" nos meus tempos de escolaridade!
    Talvez mude de opinião se encontrar algo mais na "net".

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  5. A influencia do breughel é mais visível nos primeiros quadros de Brouwers, principalmente pelo facto da sua escolha para pincelar gente modesta e o quotidiano passou se nas tabernas de reputação duvida, com brigas e cenas caóticas.
    Por isso parece-me que Brouwers está mais perto de Jan Steen (1626 -1679) pintor holandês (Leiden)
    que pintou os mesmos assuntos nos seus quadros. Engraçado para saber, existe um provérbio popular na língua flamenga que o meu pai gostava de dizer, quando o meu quarto não estava arrumado: " parece-me aqui a família de Jan Steen ".
    cumprimentos de Antuérpia

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  6. Sinceramente, não sei onde posicionar Brouwer no seio das correntes de pintura, meu caro impaciente. Influências: os dois Pieter Brueghel, o Velho e o Novo? Frans Hals? Estilos aparentados: os dos discípulos de Hals como Molenaer e van Ostade, e por intermédio deste, Jan Steen?

    São opiniões pessoais mas, se na pintura de Jan Steen “podem acontecer” muitas coisas ao mesmo tempo (A Festa de São Nicolau), no fundo tudo se explica, tudo parece estar sob controle, não fosse ele um holandês… Mas na pintura de Brouwer, tudo parece um espontâneo inesperado, tudo parece ser mais caótico, com várias explicações possíveis sobre o que se está a passar – será por ser mais flamengo, meu caro alfacinha?...

    Já agora, porque lhe chama Adriaan Brouwers? Mesmo nas referências em flamengo que consultei o nome usado é Adriaen Brouwer. Estou a escrevê-lo incorrectamente?

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  7. Adriaen brouwers é o seu nome, somente escrevi o nome na maneira actual, o pintor encontrou Breughel o jovem em Antuérpia. Comparei - o com Jan Steen por causa os mesmos assuntos dos quadros, não o estilo. Na idade de 32 anos o Adriaen já tinha fama internacional e apesar a ajuda dos seus amigos como Rubens era a sua dependência ao álcool o maior inimigo dele e, provavelmente a razão da sua morte ceda. Cumprimentos amáveis de Antuérpia

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