
Haveria desde aqueles que haviam transitado directamente das amizades com a URSS, passando por aqueles originários de esquerdas menos ortodoxas que, apesar de tudo, vêem na Rússia um dos raros pólos de oposição à hegemonia mundial norte-americana, até aos que ali chegaram do outro lado do espectro político, pela admiração por quem ficou com a reputação de pôr ordem à casa de uma forma musculada.
Contudo, saiu um artigo na revista Foreign Affairs de Janeiro/Fevereiro 2008, que põe em causa, de uma forma, para mim, sustentada, o mito de Vladimir Putin, o recuperador da grandeza internacional da Rússia. Citando-o: os dados simplesmente não corroboram a noção que a abordagem autocrática do regime de Putin está a responder e a superar os enormes problemas de desenvolvimento da Rússia.

Vladimir Putin assumiu o poder a 31 de Dezembro de 1999, o que descarta aquela tese que ainda terá havido falta de tempo para pôr a casa em ordem quanto a alguns aspectos. Oito anos já são um período alargado pelos padrões ocidentais, quando já se podem fazer balanços consequentes da actividade de um governante, pelas consequências das medidas que adoptou e implementou.
A Rússia sob Boris Yeltsin afundou-se até muito baixo, e há imensos aspectos em que o estado russo melhorou em relação aos anos 90: as pensões e os salários dos funcionários públicos são pagos a tempo, nas obras públicas, no sector educativo ou no da defesa houve uma evidente melhoria. Tomando em consideração o aumento dos recursos do estado devidos ao aumento dos preços do petróleo, surpreende é o que não melhorou…

Na saúde, cujas despesas em média desceram proporcionalmente de 6,4 para 6,0% do PIB da década de 90 para a actual, ainda não se atingiu um ponto de inflexão no decréscimo progressivo da população total, que é causado por taxas decrescentes de natalidade e crescentes de mortalidade, sintetizados numa esperança média de vida de 59 anos para os homens e de 72 para as mulheres.
Existe uma componente demasiado forte de subjectividade nos índices de corrupção para os querer utilizar, mas há um contraste gritante entre os indicadores terceiro mundistas mostrados acima e os financeiros, onde a Rússia é a economia com o 4º maior excedente comercial do mundo* e apresentando até um orçamento superavitário: não é por falta de recursos financeiros que a situação assim se apresenta.

Quanto ao crescimento económico registado pela Rússia nos últimos anos, sabe-se quanto ele permanece assente em matérias-primas, sobretudo recursos energéticos, ultimamente muito bem cotados. Mesmo assim, calculando e comparando o crescimento económico dos países que faziam parte da URSS entre 1999 e 2006, a Rússia fica em 9º lugar entre aquelas 15 economias.
Quanto à distribuição da riqueza, a evolução também parece não ter sido no sentido de que tenha havido uma diminuição das diferenças dentro da sociedade russa. Ironicamente, há quem já tenha abandonado a referência ao objectivo de igualar o padrão de vida de Portugal, mas tenha ido buscar um outro exemplo – este de distribuição da riqueza - a um outro país de expressão portuguesa: Angola. Vá-se lá imaginar porquê…
* Depois da Alemanha, China e Arábia Saudita.
Parece-me que, como sucede em alguns lugares conhecidos, ali também só mudam as moscas...
ResponderEliminarOutro bicho, Impaciente. Será outro bicho, que as moscas dão-se mal com o frio...
ResponderEliminarHoje, ao sonharmos com o petróleo, os diamantes e outras riquezas, só nos resta cantar baixinho o famoso estribilho "Angola era nossa, Angola já foi nossa, Angola era melhor que fosse nossa"...
ResponderEliminar