31 outubro 2009

OS CÃES DE PAVLOV

Na sua famosa experiência (acima) Pavlov começou por fazer um cão associar um outro estímulo (o som da campainha) à visão da comida até que posteriormente o segundo estímulo, mesmo isolado, viesse a provocar no cão a mesma reacção (a salivação) com que ele reagia inicialmente à visão da comida. Chama-se a isto Condicionamento Clássico. Pavlov não terá chegado a conclusões quanto a saber se este processo era irreversível ou, sendo reversível, por quanto tempo ele se manteria na memória do cão e se, quando desaparecesse, isso aconteceria de forma brusca ou intermitente.

Mas as observações que têm vindo a ser realizadas com alguns humanos têm mostrado que o condicionamento clássico pode perdurar pelo menos por uns 20 anos. Tomemos o exemplo da forma como os comunistas analisavam a situação política internacional nos bons velhos tempos da Guerra-Fria: havia os bons – os soviéticos e o campo socialista – e os maus – os americanos e o campo capitalista. Depois, quando a Guerra-Fria acabou e os bons desapareceram, o estímulo dos comunistas contra os maus lá permaneceu, tal qual a salivação dos cães de Pavlov em resposta ao toque da campainha.
De qualquer modo, para os comunistas as análises dos vários problemas de política internacional que foram aparecendo nestes últimos 20 anos continuam, num certo sentido, fáceis de fazer: de que lado é que estão os americanos? Então nós (comunistas) estamos do outro… Claro que esta atitude arrasta consigo os seus disparates, como a de ter de mostrar um mínimo de solidariedade com a religiosidade retrógrada dos talibans afegãos, os antigos inimigos que fizeram vergar o internacionalismo proletário… Mas isso serão trocos dialécticos para quem já explicou a invasão da Checoslováquia!...

Só que, por vezes, mais do que uma questão de dialéctica, torna-se uma questão de ridículo! Nunca percebi muito bem a questão hondurenha, a não ser que devia ser mais complexa que o maniqueísmo (de Pavlov) com que ela costumava ser apresentada. Hoje aparece a notícia do fim da crise, com a recondução do bom (Manuel Zelaya) numa solução diplomática patrocinada pelos maus (americanos) e com fotografias de apoiantes do bom a celebrarem debaixo da bandeira dos maus (abaixo) … Claro que, dialecticamente, tudo se explica, mas eu estou mais como o ditado(*): compreendo melhor os cães
(*) Quanto mais conheço os homens, mais gosto dos cães.

3 comentários:

  1. Atendendo a que o António Teixeira sabe muito bem que «os comunistas» e os membros do Partido Comunista (nomeadamente o português) são identidades diferentes entre si, acho pobre a análise que traz aqui com referências caninas.

    Além disso, os factos que menciona são de uma complexidade que não se compadece com avaliações genéricas e definitivas sobre os actores políticos - posso aprovar o sentido apontado inicialmente por Obama para as relações internacionais, sem concordar com a vietnamização do Afeganistão; defender a reivindicação de Zalaya, sem concordar com a sua tactica de compromissos...

    E, no entanto, quem de nós não saliva diante um bom bife?!

    ResponderEliminar
  2. Fiz um comentário ao um poste seu que não apareceu na respectiva caixa. Enviei-lhe uma mensagem a esse respeito a que ainda não me respondeu. Passa-se alguma coisa, António Marques Pinto?

    ResponderEliminar
  3. Em tese tem toda a razão, António Marques Pinto, porque comunista e membro do PCP são, como diz, identidades diferentes. Não lhe darei é a mesma razão quanto a isso empobrecer esta minha análise...

    A verdade é que não serei o primeiro (nem o último...) a confundir as duas identidades, a começar pela própria organização visada, que me parece que a cultiva, induzindo a designação de "ex-comunistas" para aqueles que dela se afastaram.

    Tudo isto se assemelha à situação daqueles padres que entretanto se casaram mas que se continuam a considerar padres (porque o sacramento da ordenação não é anulado...), muito embora a Igreja os proíba de dizer missa e de exercer outras actividades sacerdotais...

    Enfim, como eu não cesso de me maravilhar, muito disso de quem é e de quem foi (comunista) e de quem tem direito ao título parece mesmo decorrer do religioso...

    Termine o António Marques Pinto a falar da carne que eu terminei a falar da alma...

    ResponderEliminar