04 outubro 2009

DA ANTIGA NECESSIDADE DOS CORTA-PAPÉIS PARA AS MODERNAS “SALAS DE LEITURA”

Uma maneira diferente de apreciar a forma como evoluiu a nossa sociedade é através dos cuidados que se têm com o manuseamento dos livros novos. Há uns 40 ou 50 anos atrás, houve uma fase editorial em que os livros se apresentavam selados, i.e., com algumas páginas por abrir, como forma de garantir ao comprador que ele havia sido o primeiro leitor do livro. Foi uma moda passageira, já que o processo obrigava o leitor à maçadora tarefa de abrir consecutivamente as páginas recorrendo a um corta-papéis (acima) ou a outro objecto semelhante.
Hoje estaremos nos antípodas dessa preocupação. Basta irmos a uma dessas tabacarias franchisadas dos centros comerciais (acima, a entrada de uma da cadeia Sete Rios) para nos depararmos com um estendal de leitores cravas que, impassíveis e perante a indiferença dos encarregados, folheiam prazenteiramente e à discrição a oferta exposta. Na sua vocação popular e pelintra, parece um sucedâneo das antigas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian (abaixo) que o povão da actualidade já só se fica pela leitura de revistas, os livros têm páginas a mais…
Mesmo assim, às vezes abusa-se… Ontem, encontrei um desses chupistas que folheava um mísero Diário de Notícias para poupar a fortuna de 1,40€ e ignorante, com certeza, que o jornal está disponível on-line! Contudo, achei simbólico que a cena se estivesse a passar numa das livrarias de Isaltino de Morais, ilustrando o que deve ser o retrato moral e o perfil típico do seu eleitorado: o do pequeno vigarista, sem categoria alguma, disposto a quase tudo para ganhar um quase nada e um admirador confesso dos exemplares bem sucedidos da sua espécie…

1 comentário:

  1. As Bibliotecas itinerantes da Gulbenkian, constituiram, para muitos, a cultura possível no tempo da anestesia.
    O cidadão-eleitor Tuga, que vota no Isaltino e não só, não lê, vê os bonecos e acha que não deve pagar por isso. Confere.

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