
Uma maneira diferente de apreciar a forma como evoluiu a nossa sociedade é através dos cuidados que se têm com o manuseamento dos livros novos. Há uns 40 ou 50 anos atrás, houve uma fase editorial em que os livros se apresentavam selados,
i.e., com algumas páginas por abrir, como forma de garantir ao comprador que ele havia sido o primeiro leitor do livro. Foi uma moda passageira, já que o processo obrigava o leitor à maçadora tarefa de abrir consecutivamente as páginas recorrendo a um corta-papéis (acima) ou a outro objecto semelhante.

Hoje estaremos nos antípodas dessa preocupação. Basta irmos a uma dessas tabacarias
franchisadas dos centros comerciais (acima, a entrada de uma da cadeia
Sete Rios) para nos depararmos com um
estendal de leitores
cravas que, impassíveis e perante a indiferença dos encarregados, folheiam prazenteiramente e à discrição a oferta exposta. Na sua vocação popular e pelintra, parece um sucedâneo das antigas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian (abaixo) que o
povão da actualidade já só se fica pela leitura de revistas, os livros
têm páginas a mais…

Mesmo assim, às vezes abusa-se… Ontem, encontrei um desses
chupistas que folheava um mísero
Diário de Notícias para poupar a fortuna de 1,40€ e ignorante, com certeza, que o
jornal está disponível on-line! Contudo, achei simbólico que a cena se estivesse a passar numa das livrarias de
Isaltino de Morais, ilustrando o que deve ser o retrato moral e o perfil típico do
seu eleitorado: o do pequeno vigarista, sem categoria alguma, disposto a
quase tudo para ganhar um
quase nada e um admirador confesso dos exemplares
bem sucedidos da sua espécie…
As Bibliotecas itinerantes da Gulbenkian, constituiram, para muitos, a cultura possível no tempo da anestesia.
ResponderEliminarO cidadão-eleitor Tuga, que vota no Isaltino e não só, não lê, vê os bonecos e acha que não deve pagar por isso. Confere.