Aqueles que souberem algumas das raízes gregas presentes na língua portuguesa descobrem facilmente o que identificava Antígono Monoftalmos – só tinha um olho, condição que me desperta a minha maior simpatia, dadas as circunstâncias de me encontrar, como Antígono, ainda que felizmente só de forma provisória, monoftálmico. Mas, à parte o facto de ser grego – em rigor macedónio – tenho que admitir que Antígono (acima) não será uma daquelas personagens históricas que despertam de imediato o reconhecimento dos leitores. Antígono nasceu em 382 a.C. e morreu em 301 a.C., com 81 anos, mas não morreu na cama, de velhice, morreu em combate na Batalha de Ipso(*), trespassado por um dardo. Não possuindo informações para escrever a sua história clínica – nomeadamente não sabemos em que condições é que terá cegado do olho que lhe granjeou a alcunha – fica-nos pelo menos a impressão que a cegueira não terá interferido muito com o seu estado de saúde geral, robusto, que a presença de octogenários no comando de exércitos em campos de batalha sempre foi um fenómeno raríssimo.
Antígono começou por se celebrizar como um dos oficiais de Alexandre Magno. Sendo 26 anos mais velho que Alexandre (356 a.C. – 323 a.C.), é provável que Antígono fosse já um dos homens do estado-maior de Filipe II da Macedónia, pai de Alexandre. E as funções que Alexandre lhe atribuiu na sua expedição para a conquista do Império Persa, não sendo de grande visibilidade, foram de grande responsabilidade, ao encarregá-lo de manter e defender as regiões do centro da Ásia Menor (mais precisamente a Frígia, com a sua capital Górdio e o seu famoso nó cortado por Alexandre…), que eram essenciais para manter as linhas de abastecimento logístico entre a Macedónia e a Grécia e os exércitos de Alexandre que cada vez mais se embrenhavam em direcção a Oriente (mapa abaixo). Ao contrário do que acontece com os exércitos modernos, em que o fluxo principal é o de bens, nos tempos de Alexandre, os fluxos mais importante para ele seria o de pessoas: contingentes militares vindos principalmente da Macedónia, para substituir os perdidos em combate e sobretudo por doença, e quadros administrativos de cultura grega para constituírem as elites das zonas recentemente conquistadas.
Tendo sido reconhecido a partir de meados do Século XIX no Ocidente como uma figura maior da História Universal, entre os defeitos que os historiadores da altura reconheceram a Alexandre (a impetuosidade, por exemplo, defeito-virtude de qualquer herói romântico…) não se contava a completa fragilidade politica do aparelho de estado criado por si e pelos seus adjuntos. E esse foi o erro político mais importante cometido por si e pelas elites macedónias que o rodeavam. Note-se, por um lado, que o Império de Alexandre tinha herdado o aparelho de estado que havia sido instalado pelo seu antecessor persa (que fora aperfeiçoado ao longo de 300 anos), e por outro, que ao lado da estrutura política, houve uma estrutura social nova, com a expansão da cultura grega, apoiada na colonização, sendo os colonos uma base social de apoio ao regime. A verdade é que, com a morte de Alexandre, perdida a pessoa do fundador, os centros de poder multiplicaram-se e o Império esfarelou-se como um qualquer império nómada unipessoal como os aqueles que vieram a ser criados pelos povos hunos (Átila), mongóis (Gengis Cã) ou turcos (Tamerlão). E é aqui que regressamos a Antígono Monoftalmos, um dos oficiais que, a partir da morte de Alexandre, começaram a estabelecer um centro de poder autónomo concorrente com o central.
Antígono começou por se celebrizar como um dos oficiais de Alexandre Magno. Sendo 26 anos mais velho que Alexandre (356 a.C. – 323 a.C.), é provável que Antígono fosse já um dos homens do estado-maior de Filipe II da Macedónia, pai de Alexandre. E as funções que Alexandre lhe atribuiu na sua expedição para a conquista do Império Persa, não sendo de grande visibilidade, foram de grande responsabilidade, ao encarregá-lo de manter e defender as regiões do centro da Ásia Menor (mais precisamente a Frígia, com a sua capital Górdio e o seu famoso nó cortado por Alexandre…), que eram essenciais para manter as linhas de abastecimento logístico entre a Macedónia e a Grécia e os exércitos de Alexandre que cada vez mais se embrenhavam em direcção a Oriente (mapa abaixo). Ao contrário do que acontece com os exércitos modernos, em que o fluxo principal é o de bens, nos tempos de Alexandre, os fluxos mais importante para ele seria o de pessoas: contingentes militares vindos principalmente da Macedónia, para substituir os perdidos em combate e sobretudo por doença, e quadros administrativos de cultura grega para constituírem as elites das zonas recentemente conquistadas.
Tendo sido reconhecido a partir de meados do Século XIX no Ocidente como uma figura maior da História Universal, entre os defeitos que os historiadores da altura reconheceram a Alexandre (a impetuosidade, por exemplo, defeito-virtude de qualquer herói romântico…) não se contava a completa fragilidade politica do aparelho de estado criado por si e pelos seus adjuntos. E esse foi o erro político mais importante cometido por si e pelas elites macedónias que o rodeavam. Note-se, por um lado, que o Império de Alexandre tinha herdado o aparelho de estado que havia sido instalado pelo seu antecessor persa (que fora aperfeiçoado ao longo de 300 anos), e por outro, que ao lado da estrutura política, houve uma estrutura social nova, com a expansão da cultura grega, apoiada na colonização, sendo os colonos uma base social de apoio ao regime. A verdade é que, com a morte de Alexandre, perdida a pessoa do fundador, os centros de poder multiplicaram-se e o Império esfarelou-se como um qualquer império nómada unipessoal como os aqueles que vieram a ser criados pelos povos hunos (Átila), mongóis (Gengis Cã) ou turcos (Tamerlão). E é aqui que regressamos a Antígono Monoftalmos, um dos oficiais que, a partir da morte de Alexandre, começaram a estabelecer um centro de poder autónomo concorrente com o central.
Encurtando a parte da narrativa que inclui o detalhe dos incidentes que se seguiram à morte de Alexandre, em 303 a.C., 20 anos portanto depois dela, havia cinco desses centros de poder como se pode observar no mapa acima, cada um dirigido por um diádoco (a palavra grega para sucessor), todos antigos oficiais de Alexandre. Registe-se que a dimensão aparente das áreas de cada um dos cinco Reinos não tinha significado correspondente para o seu potencial estratégico. Economicamente, o mais poderoso seria o de Ptolomeu, considerando a profundidade estratégica, a vantagem seria para o de Seleuco e geograficamente, pela sua posição central, seria o de Antígono. Tivesse o desfecho da tal Batalha de Ipso (301 a.C.) sido o oposto, e Antígono tivesse vencido, e realçar-se-ia a vantagem estratégica da posição central do seu Reino, dominando as linhas de comunicação internas, que lhe permitiriam posicionar mais rapidamente os seus exércitos face aos dos inimigos(**). Tendo o desfecho sido como foi, e tendo o Reino de Antígono desaparecido (veja-se o mapa abaixo de 270 a.C.), é porque ele tinha a desvantagem estratégica de ter fronteiras comuns e disputas territoriais com todos os seus quatro rivais… Um dos grandes atractivos da estratégia é que, estudando-a e sendo-se imaginativo, pode haver sempre explicação para tudo, como acontecia com os oráculos dos sacerdotes da antiguidade,…
(*) Não confundir com a Batalha de Isso que foi travada 32 anos antes (333 a.C.) entre Alexandre Magno e Dário III, o Xá da Pérsia.
(**) É uma vantagem que se costuma apontar, por exemplo, aos bolcheviques durante a Guerra Civil russa (1917-1923). É uma vantagem que não se costuma apontar, por exemplo, aos alemães durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), visto que a perderam.
(**) É uma vantagem que se costuma apontar, por exemplo, aos bolcheviques durante a Guerra Civil russa (1917-1923). É uma vantagem que não se costuma apontar, por exemplo, aos alemães durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), visto que a perderam.
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