19 setembro 2009

FLOR DA IDADE

A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia 
 P´ra ver Maria 

 A gente almoça e só se coça e se roça
 e só se vicia 

A porta dela não tem tramela 
 A janela é sem gelosia 
 Nem desconfia 

Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor 

Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família 
 A armadilha 

 A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha 
 Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha 
 Que maravilha 

 Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor 

Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua 
 A gente sua 

A roupa suja da cuja se lava no meio da rua 
 Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua 
 E continua 

 Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor 

 Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo 
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora 
 que amava Rita que amava Dito que amava Rita Que amava Dito 
 que amava Rita que amava Carlos amava Dora que amava Pedro 
 que amava tanto que amava a filha que amava Carlos que amava Dora 
Que amava toda a quadrilha 
Que amava toda a quadrilha 
Que amava toda a quadrilha

3 comentários:

  1. Excelente poste. Cada verso uma metáfora oportuna.
    Parabens!

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  2. Obrigado JRD. Gosto muito desta Flor da Idade que me parece uma daquelas canções de Chico Buarque que são mais injustamente menosprezadas – tem uma letra belíssima, quer vale por si, mas de muito difícil dicção quando cantada, e a que é preciso estar atento para percebermos as nuances.

    Segundo li, foi inspirada num poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) intitulado Quadrilha:

    João amava Teresa que amava Raimundo
    que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
    que não amava ninguém.

    João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
    Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
    Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
    que não tinha entrado na história.

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