08 setembro 2009

O JEDIÍSMO E OUTROS FENÓMENOS DO NOSSO TEMPO

Já não me lembro onde terei lido a história de um par de rapazes que seguia no seu carro quando, ao atravessar os cabos esticados na estrada de um contador de tráfego (acima), resolveram parar a meio e, saindo do carro, resolveram levantá-lo e empurrá-lo com as rodas traseiras no ar, para que estas passassem por cima do cabo sem lhe tocar. Quando alguém que passava lhes perguntou porque é que estavam a fazer aquilo, um dos rapazes sorriu e explicou: - É apenas para lhes estragar as estatísticas todas. Como eles contam os carros pelos pares de rodados, já os imaginou agora a ter que preencher todas as estatísticas deles com um “meio carro”?...
Se os recenseamentos, as contagens e as estatísticas sempre foram uma demonstração de exercício da autoridade do Estado e eles costumem estar registados – não nos esqueçamos que ainda hoje sabemos que Roma tinha organizado um na Judeia precisamente na altura do nascimento de Cristo – as reacções evasivas por parte da populações submetidas a eles, embora não estejam registadas da mesma forma, deverão ser um fenómeno igualmente tão antigo. É um ciclo de perguntas e respostas que se tem vindo a tornar historicamente mais pesado, à medida que o aparelho estatal cresceu, arrastando consigo a burocracia, a quantidade de perguntas e a aldrabice das respostas…
Alguns desses fenómenos costumam passar ao lado do circo noticioso. Outros não passam, especialmente quando essas manifestações de saturação podem ser imputadas em exclusivo ao braço político do aparelho de estado. Um caso típico deste último caso terá sido o das eleições europeias realizadas ainda em Junho deste ano na Suécia, onde o Partido Pirata local (acima), um partido político monotemático que se opõe tanto aos direitos das patentes como aos direitos de autor, recolheu 226.000 votos (7,1%) e ganhou uma representação no Parlamento Europeu. Neste caso, creio que ainda se pode argumentar que se tratará de uma espécie de paródia, causada pela incompetência dos políticos.
Mas, e nos outros casos em que não parece existir qualquer explicação política? Quase não se noticiou, e poucos se aperceberam que houve um movimento nos vários países anglo-saxónicos para que nos censos realizados em 2001, na pergunta respeitante à confissão religiosa, as pessoas se confessassem como jedíistas, ou seja, adeptos da religião ficcional da saga da Guerra das Estrelas… Os resultados foram que 404.000 britânicos, 70.000 australianos, 53.000 neozelandeses e 20.000 canadianos se confessaram oficialmente adeptos dessa religião, que, por causa disso, se tornou na maior religião minoritária da Nova Zelândia e na terceira maior religião minoritária da própria Grã-Bretanha…
Dessa vez, sem que houvesse alvos políticos a abater, a notícia da religião em fulgurante ascensão não terá ultrapassado as páginas interiores das curiosidades, embora, como fosse de esperar, os burocratas dos serviços de recenseamento não tivessem levado a coisa com tão bom humor. Embora haja maduros para tudo, é evidente que os censos posteriores vieram mostrar que a maioria dos crentes nunca existira: na Nova Zelândia, por exemplo, num censo que foi realizado cinco anos depois, mais de 60% da comunidade jedíista havia desaparecido... Enfim, resta-me desejar-vos, empregando a que penso ser a língua litúrgica do jedíismo: May the Force be with You! (Que a Força fique convosco!)

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