04 setembro 2009

DA HISTÓRIA DE UM RESTAURANTE PARA OTÁRIOS CHIQUES ATÉ À MINHA (DELE) HISTÓRIA DE CHICO BUARQUE

Há, na Mexilhoeira Grande, no Algarve entre Portimão e Lagos, um Restaurante que se mantém famoso com o nome de Adega Vila Lisa. Já lá não vou há uns bons 15 anos, e já nessa altura se percebia claramente aquilo em que ele se ia tornar. Mas, mesmo deixando de lá ir, tenho que compreender a opção dos dois proprietários que, em vez de procurarem enriquecer, resolveram assegurar uma clientela que fosse simultaneamente tanto otária como abonada (li que estarão a cobrar entre 30 e 35€ por refeição!...) para que eles possam trabalhar o menos possível: só se servem jantares e há 8 meses do ano em que o Restaurante está aberto apenas em dois dias da semana…
Como acontece com todas as coisas que são chiques, o essencial para elas é que permaneçam chiques, e ainda muito recentemente (a 25 de Agosto) num jornal que também é chique (o Expresso) escreveu-se um artigo muito elogioso a respeito da Adega Vila Lisa, num enorme contraste com a esmagadora maioria das opiniões expressas depois na caixa de comentários, o que me levanta a suspeita que, se o autor do artigo perceber alguma coisa do assunto sobre o qual escreveu e estiver a ser honesto na sua crítica, então será porque ele e os comentadores terão jantado em dois Restaurantes completamente diferentes… Mas, quando comecei a lá ir, não era bem assim…
E a maior recordação que tenho daquele Restaurante foi uma ocasião em que um dos pratos tradicionais da ementa já acabara e o Vila (na fotografia acima) veio à mesa pedindo desculpas e disponibilizando-se para confeccionar ali um outro prato em alternativa, um improviso, um bacalhau que se veio a revelar qualquer coisa de verdadeira e inesperadamente divinal! Muitas vezes, é nestas circunstâncias em que nos baseamos em matérias-primas banais que se apreciam os verdadeiros prodígios e se pode julgar realmente a virtuosidade do artista, que a do Vila como cozinheiro, naquele jantar e talvez mesmo da forma mais inesperada, para nós ficou ali definitivamente comprovada…
Ora, no Festival de San Remo de 1971, houve um cantor e compositor italiano chamado Lúcio Dalla que concorreu com uma música que se intitulava 4/3/1943 ou ainda Gesu Bambino, conforme se pode ver e ouvir no vídeo acima. A canção ficou classificada em terceiro lugar, mas o que interessa é que se possa fazer a comparação entre a versão original (acima) e a que Chico Buarque veio a gravar nesse mesmo ano e a que veio a dar o título de Minha História (abaixo). A letra original sofreu as transformações mínimas necessárias provocadas pela mudança do idioma, mas a doçura da mudança dos arranjos musicais associo-a à sabedoria, como a dos condimentos que o Vila adicionou ao tal bacalhau…

2 comentários:

  1. Umas vezes são nomes de pessoas, outras vezes são nomes de terras... Há nomes que nos fazem estremecer pelo que invocam da nossa história pessoal.

    Peço desculpa deste exorcismo na forma tentada - já que nunca terá sucesso. E se devo uma explicação, a razão é esta: "Tudo se relaciona".

    Ó António Teixeira, não podia ter falado antes de Boliqueime que não fica longe da Mexilhoeira e sempre lhe dava um comentário presidencial?! (Passe a brincadeira).

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  2. Não, não podia. Aqui, neste blogue, o rigor no tratamento dos temas é de rigor.

    A Adega Vila Lisa é na Mexilhoeira Grande, não na Mexilhoeira da Carregação, muito menos em Boliqueime, embora já me tenha constado que para essas últimas bandas prosperam outros Restaurantes para otários chiques, alguns, parece, até com estrelas Michelin...

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