
Contudo, na falta de provas escritas que o possam atestar, crê-se que foi a partir dessa altura (Século VII) que se começou a instalar uma comunidade de seguidores do Zoroastrismo nas regiões costeiras ocidentais da Índia. Como acontecia simultaneamente com os judeus na Europa, ao longo dos tempos a comunidade acentuou os seus traços de identidade dedicando-se predominantemente ao comércio e casando entre si. Entre os primeiros relatos de europeus referentes a essa comunidade, conta-se o do médico e naturalista português Garcia de Orta (abaixo, c. 1500-1568) no Século XVI.

Para o observador mais desatento e menos experimentado, muitos parsis podem passar por pertencer ao tipo mediterrânico, o que justifica a confusão feita pelos portugueses em os terem tomado inicialmente por judeus e essa confusão ainda seria objecto de muitas outras situações equívocas no futuro... É que, na sociedade indiana, sempre tendeu a estratificar-se em função da cor da pele do indivíduo. Com a Índia Britânica, os britânicos apenas se limitaram a levar essa hierarquização ao seu corolário extremo. E, como costuma acontecer nessas situações, são sempre os mais medíocres a aplicar essas regras com mais rigor…

Em contraste, algumas práticas religiosas ancestrais que eles haviam trazido da Pérsia tornavam-nos exóticos, mesmo numa terra onde se estava muito habituado aos exotismos. Ao lado de comunidades que incineravam os seus mortos (a maioria hindu), os enterravam em cerimónias simples (os muçulmanos) ou mais elaboradas (os cristãos), os parsis, por sua vez, deixavam os seus em exposição em edifícios isolados designados por Torres do Silêncio (abaixo) onde os elementos e as aves necrófagas se encarregavam da decomposição dos corpos.

E, apesar de apenas representarem 0,006% da população indiana total, a proeminência da comunidade faz-se sentir em muitos outros campos de actividade, com uma notoriedade reconhecida não apenas na Índia mas até em termos mundiais. São os casos do Marechal-de-Campo Indiano Sam Manekshaw (1914-2008), o vencedor de Guerra Indo-Paquistanesa de 1971, o Maestro Zubin Mehta (1936- ) ou ainda, embora não nascido na Índia mas oriundo de uma família parsi vivendo no estrangeiro, o cantor Farrokh Bulsara (1946-1991), muito mais conhecido pelo seu nome artístico de Freddie Mercury…

Nota: Embora não identificada no texto, refira-se que a terceira fotografia deste poste é de Rattanbai Petit (1900-1929), uma parsi que se veio a casar em 1918 com Muhammad Ali Jinnah (1876-1948), de quem teve a única filha daquele que ficou conhecido como o fundador do Paquistão moderno, de seu nome Dina (1919- ). Dina veio a casar-se com um parsi (Neville Wadia) contra a vontade paterna e, em conflito com ele, permaneceu em Bombaim depois da partição de 1947 que separou a Índia e o Paquistão. Paradoxalmente, todos os descendentes directos de Jinnah são hoje parsis e têm a nacionalidade indiana…
Eu sabia que Freddy Mercury tinha nascido em Stone Town, em Zanzibar, ilha indiana de possessão inglesa à época. Não sabia que era parsi.
ResponderEliminarO que eu aprendo contigo!...
: )
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