Uma das impressões mais antigas que guardo da minha descoberta de que havia uma lógica distinta na forma como os comunistas transpunham as suas convicções para alguns aspectos do quotidiano está associada a uns Jogos Olímpicos, os de 1976 em Montreal. A televisão transmitiu a final do torneio olímpico de voleibol entre a Polónia e a União Soviética, um jogo disputadíssimo a que eu assistia – como era habitual no Verão – num daqueles televisores de café, rodeado de uma assistência atenta. Quanto a escolher por quem torcer, aquele jogo até fugia à lógica da Guerra-Fria que era predominante na altura para decidir por qual dos países escolher: os dois países pertenciam ao bloco socialista.
Mas depois desse, usavam-se os critérios de hoje e de sempre para optar por quem se torcia, e as simpatias naturais iriam para a Polónia. Porque era o país mais pequeno e o mais fraco é-nos sempre mais simpático, e porque era o país que nos era mais próximo, regra que entre nós se cumpre quase sempre, com a notável excepção da Espanha. Mas o auditório que seguia entusiasmado aquele jogo de voleibol estava claramente dividido entre quem torcia pela Polónia e uma minoria que torcia pela União Soviética. Porque se viviam outros tempos de desenvoltura da conversa política, depressa deu para me aperceber que os torcedores pelos soviéticos eram simpatizantes comunistas.
Para a história ficou a vitória e a medalha de ouro para a equipa polaca por uns cerradíssimos 3-2, mas para a minha memória ficou um trecho da frase de consolo, dita por um dos apoiantes da equipa soviética a um seu correligionário no fim do jogo: apesar de tudo, a Polónia também era um país socialista… Claro que se tratava de uma época de excessos, o PREC acabara de terminar e aquele café não seria o local mais indicado para encontrar detentores de uma cultura política muito sustentada, mas não me deixei de interrogar que imposições de disciplina ou outros quaisquer processos de raciocínio levariam a endeusar assim a superpotência do bloco socialista em detrimento dos seus aliados…
É que parecia haver ali toda uma outra escala de valores, distinta da do resto do espectro político. Ainda recentemente pude tornar a constatar essa diferença no blogue Hoje há conquilhas…, ao autor do qual (Tomás Vasques) enviaram uma questão, que creio se pretendia embaraçosa, sobre as relações do PS (partido no qual milita) com partidos de origens menos recomendáveis, como a antiga Roménia, o antigo Iraque ou a Coreia do Norte. O interessante da história nem é a resposta – demarcando-se dessas posições do seu partido – mas a lógica de quem terá pensado que aquela questão, por poder provocar uma crítica ao seu próprio partido, podia ser embaraçosa para o destinatário…
Mas depois desse, usavam-se os critérios de hoje e de sempre para optar por quem se torcia, e as simpatias naturais iriam para a Polónia. Porque era o país mais pequeno e o mais fraco é-nos sempre mais simpático, e porque era o país que nos era mais próximo, regra que entre nós se cumpre quase sempre, com a notável excepção da Espanha. Mas o auditório que seguia entusiasmado aquele jogo de voleibol estava claramente dividido entre quem torcia pela Polónia e uma minoria que torcia pela União Soviética. Porque se viviam outros tempos de desenvoltura da conversa política, depressa deu para me aperceber que os torcedores pelos soviéticos eram simpatizantes comunistas.
Para a história ficou a vitória e a medalha de ouro para a equipa polaca por uns cerradíssimos 3-2, mas para a minha memória ficou um trecho da frase de consolo, dita por um dos apoiantes da equipa soviética a um seu correligionário no fim do jogo: apesar de tudo, a Polónia também era um país socialista… Claro que se tratava de uma época de excessos, o PREC acabara de terminar e aquele café não seria o local mais indicado para encontrar detentores de uma cultura política muito sustentada, mas não me deixei de interrogar que imposições de disciplina ou outros quaisquer processos de raciocínio levariam a endeusar assim a superpotência do bloco socialista em detrimento dos seus aliados…
É que parecia haver ali toda uma outra escala de valores, distinta da do resto do espectro político. Ainda recentemente pude tornar a constatar essa diferença no blogue Hoje há conquilhas…, ao autor do qual (Tomás Vasques) enviaram uma questão, que creio se pretendia embaraçosa, sobre as relações do PS (partido no qual milita) com partidos de origens menos recomendáveis, como a antiga Roménia, o antigo Iraque ou a Coreia do Norte. O interessante da história nem é a resposta – demarcando-se dessas posições do seu partido – mas a lógica de quem terá pensado que aquela questão, por poder provocar uma crítica ao seu próprio partido, podia ser embaraçosa para o destinatário…
O seu poste fez-me lembrar uma cerimónia de encerramento de um campeonato do mundo de hóquei em patins disputada em Portugal, no final dos anos setenta, sobre a qual inserirei um poste um destes dias.
ResponderEliminarVoltando a o assunto; muita sorte tiveram os polacos por os russos não terem enviado as "auto-caravanas" a Varsóvia, para lhes extorquir a medalha de oiro.
É que o respeitinho é (era) muito bonito ;)
A diferença talvez fosse o clima, JRD.
ResponderEliminarNa Polónia era mais para "férias de inverno", como esteve para acontecer em Dezembro de 1981, quando o general Jaruzelski promoveu um golpe de estado e decretou a lei marcial, na eminência de uma nova "excursão" de auto-caravanas.