Os quatro aviões que foram desviados a 11 de Setembro de 2001 pertenciam a voos transcontinentais norte-americanos que, saindo de cidades da costa Atlântica (2 de Boston, 1 de Washington e 1 de Newark), tinham por destino cidades da costa do Pacífico (3 iam para Los Angeles e 1 para São Francisco). Sendo voos domésticos estavam sujeitos a um regime de segurança menos apertado, mas o seu destino longínquo fazia com que os aviões estivessem atestados de combustível, o que aumentava o seu poder destrutivo, conveniente para os propósitos dos assaltantes.

Tanto quanto captar o segmento de luxo dos voos transatlânticos, um dos objectivos inconfessáveis do avião comercial supersónico Concorde era o de captar o mesmo segmento nos voos domésticos norte-americanos de uma costa a outra. Os benefícios da rapidez do Concorde (que iriam reduzir a duração dos voos para metade da duração convencional) far-se-iam sentir tanto num caso como noutro. Contudo, a prudência mandava que os europeus não alardeassem esse objectivo de vender aeronaves às companhias aéreas norte-americanas, porque o lóbi das suas construtoras aeronáuticas é fortíssimo.

Claro que um fiasco destes não se proclama, e a justificação que passou para a imprensa foi a preocupação ecológica associada às consequências no solo do estampido que seria desencadeado pelas ultrapassagens da velocidade do som. Recorde-se, para se ajuizar da plausibilidade deste argumento, que se estava em 1971 e que isto se passava nos Estados Unidos, país que nem hoje é propriamente conhecido pelas suas preocupações ambientais… Aliás, no mesmo país, nunca tal problema fora, foi ou veio a ser sequer invocado para condicionar as pesquisas aeronáuticas para a aviação militar (abaixo - um F/A-18 a passar a barreira do som)…

Mas isso não estava destinado para acontecer… Costuma referir-se que o Concorde terá fracassado porque fora concebido para níveis de consumo de combustível comuns antes do choque petrolífero de 1973. É uma explicação que fará algum sentido, mas não todo nem o principal: lembremo-nos do segmento de mercado de luxo a que as viagens em avião supersónico se destinavam e como, pela mesma altura, marcas como a Rolls-Royce ou a Bentley passaram pela mesma crise, para lhe sobreviver. Pior e verdadeiramente crucial, foi a limitação administrativa imposta pelas autoridades norte-americanas aos destinos do aparelho.

Mas, a grande conclusão que se constata de toda esta história resulta na conjunção dos interesses corporativos norte-americanos que, invocando as causas que mais convieram naquela altura, bloquearam uma solução técnica que teria colocado Los Angeles a uma comodíssimas três horas de distância de Nova Iorque já há mais de trinta anos… Foi desta conclusão que me lembrei ao ler, numa entrevista recente, o incómodo manifestado por Rui Moreira pelas deslocações que realiza entre Lisboa e o Porto e pela poupança de tempo (que ele calcula em cerca de uma hora) que se realizaria com a construção do TGV…

Mais a sério, e mesmo não tendo Portugal uma tecnologia concorrente como acontecia no caso do Concorde na América, vale a pena reflectir, sobretudo com bastante menos deslumbramento, se os benefícios associados a certos modelos de transporte que os seus construtores nos propõem para o futuro, justificam os custos a eles associados. Mesmo em termos sociais, parece-me desajustado que passemos por mais exibicionistas de uma certa riqueza supérflua do que os norte-americanos, o país reputado pelas suas limousines compridas....
É a pronuncia do norte carago!
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