
Foi inédito, mas sentia-se que na assistência havia muito mais entusiasmo do que propriamente entendimento de quais eram as regras do râguebi, tal qual como acontecia com os jornalistas, o que terá levado a comunicação social a concentrar-se no enaltecimento dos aspectos folclóricos e acessórios dos jogos (como o entusiasmo com que os jogadores portugueses cantavam o hino nacional…) em detrimento de uma apreciação técnica do expectável fraco desempenho da selecção nacional de râguebi durante o torneio.
Hoje fui almoçar ao Central Parque na esperança que, dada a importância do evento, os ecrãs talvez pudessem estar ligados para transmitirem a final olímpica de atletismo do triplo salto, onde participava como favorito a um lugar do topo (um concorrente às tão badaladas medalhas…) o atleta Nelson Évora. Como seria de antecipar, e porventura numa correcta interpretação por parte da direcção do sentimento popular a respeito das variadíssimas e bizarras modalidades olímpicas, os ecrãs estavam gloriosamente apagados…
Estabelecido este simbólico interesse geral sobre os acontecimentos olímpicos, há que fazer a distinção entre o interesse técnico pela modalidade (escasso) e o interesse pelo resultado da competição (geral) que se costuma sintetizar nas perguntas tradicionais: o Nelson Évora ganhou ou não uma medalha? E qual? Na altura que escrevo já se sabe que foi a medalha de ouro. É isso que interessa ao mundo da informação e não será muito difícil prever qual será a notícia de abertura dos telejornais da noite ou como serão os cabeçalhos dos jornais de amanhã…
Porém, o que o público em geral não fez, ao contrário de muitos órgãos da comunicação social com elementos destacados para Pequim, foi terem-se posto a emitir comentários condenatórios do desempenho dos atletas em modalidades nas quais davam a compreender que por detrás das críticas muitas vezes havia a ignorância de nem se saberem os rudimentos das regras da modalidade que o atleta praticava… É que conhecer essas regras sempre nos ajuda a perceber as contingências e a aleatoriedade sempre associadas à qualquer acontecimento desportivo…
Veja-se o caso do futebol, onde todos percebem as regras e onde nem é preciso perder muito tempo em explicações como às vezes a sorte contribui para o resultado porque a bola bate na barra ou no poste e não entra na baliza… Mas é por tudo isso que me causa um incómodo terrível o uso do colectivo na expressão usada nestas ocasiões festivas: Portugal ganhou uma medalha… Não, a verdade é que essa medalha é de Nelson Évora e, por tudo o que aqui foi descrito, creio que lhe assiste o direito de decidir se a quer compartilhar ou não…
Adenda: Esquecida neste poste, convém relembrar que também na blogosfera houve quem se tivesse associado ao ambiente geral, quer na ignorância crítica, quer na comemoração.
É preciso é haver “bola”, mesmo que seja oval, o resto é uma ova!...
ResponderEliminarApesar de compreender (penso eu de que) o sentido das suas palavras, talvez referisse, antes de todos os “candidatos” à partilha da medalha, o direito do treinador que, ao contrário do que acontece no futebol, é normalmente ignorado.
Ainda nenhuma medalha foi alcançada pelos belgas, por isso olho com invejo para os resultados de Portugal.
ResponderEliminarParabéns