Embora isto possa parecer um anacronismo para os mais novos, nos anos 60 e 70 os restaurantes chineses em Portugal eram raros e normalmente tidos como locais sofisticados, onde se praticavam preços que se destinavam a uma clientela correspondente a essa pretensa sofisticação. Em contraste, já nessa época na maioria dos outros países europeus, talvez por influência norte-americana, a comida chinesa era geralmente considerada como um tipo de comida de preço acessível, concorrente com as outras alternativas de fast food (hambúrgueres, frangos, pizzas, etc.).
O carácter paroquial e ensimesmado da sociedade portuguesa da época seria de tal ordem que nem sequer parecia beneficiar do facto de Portugal ser um dos dois únicos países europeus ainda com possessões na China*, causa para que o consumo de comida chinesa pudesse ser considerado entre nós como uma coisa mais banal. Os tempos passam, a comida chinesa, que outrora se fazia cobrar a sério, já é hoje uma trivialidade de fast food como no resto da Europa, mas um enorme letreiro numa caixa de supermercado fez-me lembrar como o mesmo tipo de deslumbramento saloio, pode continuar na moda do dia.
Como outrora era requintado ir comer chinês, parece que agora é requintado ser-se verde. E, claro, que para se ser verde é preciso pagar mais para se o ser… Já nem vale a pena falar do absurdo do papel reciclado (e de pior qualidade) que afinal é mais caro do que o papel original… Quem o usa não tem qualquer vantagem objectiva em o usar, a não ser a de demonstrar socialmente quanto se é verde. Na mesma onda, agora também há uma caixa no supermercado onde, ao invés das outras, onde os sacos são normais e grátis, se compram sacos oxodegradáveis a 2 cêntimos a unidade para embrulhar as compras…
Confesso que me irritam um pouco estas instituições que parecem mostrar-se sempre tão preocupadas com o ambiente, mas que só encontram soluções onde a manifestação dessas preocupações corre sempre por conta do cliente… Também descobri que os ditos sacos oxodegradáveis também podem ser controversos quanto ao processo de degradação… E, sobretudo, não consegui deixar de associar a pose de superioridade com que alguns saíam da tal caixa com os tais sacos, à pose de entendidos com que outros, há muitos anos, abriam os menus e escolhiam logo o chop-suey...
Pela pose, pelo dispêndio suplementar de dinheiro (dificilmente justificável) com que se comprou o direito a ter aquela pose, será possivelmente para recordar no futuro os primeiros com o gozo com que agora nos recordamos dos últimos…
* Tratava-se de Macau e o outro país europeu com uma possessão na China era o Reino Unido (Hong Kong).
Como outrora era requintado ir comer chinês, parece que agora é requintado ser-se verde. E, claro, que para se ser verde é preciso pagar mais para se o ser… Já nem vale a pena falar do absurdo do papel reciclado (e de pior qualidade) que afinal é mais caro do que o papel original… Quem o usa não tem qualquer vantagem objectiva em o usar, a não ser a de demonstrar socialmente quanto se é verde. Na mesma onda, agora também há uma caixa no supermercado onde, ao invés das outras, onde os sacos são normais e grátis, se compram sacos oxodegradáveis a 2 cêntimos a unidade para embrulhar as compras…
Confesso que me irritam um pouco estas instituições que parecem mostrar-se sempre tão preocupadas com o ambiente, mas que só encontram soluções onde a manifestação dessas preocupações corre sempre por conta do cliente… Também descobri que os ditos sacos oxodegradáveis também podem ser controversos quanto ao processo de degradação… E, sobretudo, não consegui deixar de associar a pose de superioridade com que alguns saíam da tal caixa com os tais sacos, à pose de entendidos com que outros, há muitos anos, abriam os menus e escolhiam logo o chop-suey...
Pela pose, pelo dispêndio suplementar de dinheiro (dificilmente justificável) com que se comprou o direito a ter aquela pose, será possivelmente para recordar no futuro os primeiros com o gozo com que agora nos recordamos dos últimos…
* Tratava-se de Macau e o outro país europeu com uma possessão na China era o Reino Unido (Hong Kong).
A propósito de chop suey: Ainda existe o velho “Peipin” na Duque de Loulé, aonde se comia muito bem, sob a vigilância discreta dos marines que tomavam conta do prédio em frente…
ResponderEliminarHoje, com ou sem vigilância da Asae, existem muitos, mas, confesso, já não me apanham, até porque (é só ver link):
http://bonstemposhein-jrd.blogspot.com/2008/02/do-oriente.html
Até um dia destes.
Cumprimentos
Estes seus posts põem-me (quase) os "olhos em bico". Como é que se vai lembrar da "história" dos restaurantes chineses para "dar o arroz" aos pretensos verdes! É obra desenganada!!!
ResponderEliminar:)
Quanto à gastronomia chinesa, a original, houve quem a sintetizasse que, quanto a fontes de proteínas, entra tudo o que tiver pernas, com excepção das cadeiras, e tudo o que tiver asas, com excepção dos aviões.
ResponderEliminarOs gatos que a fotografia do seu poste mostra, assim como as cobras, salamandras e demais bichos repulsivos estão incluídos: o que parece importar é que sejam frescos!
O seu cumprimento parece um pouco distinto do habitual... Mais um trecho de férias, JRD?
Nem sequer pretensos verdes, Maria do Sol, mas apenas gente inconsequente de ignorância, a quem eu, vai para uns 15/20 anos, atrapalhava provocadoramente a conversa das preocupações ecológicas, sugerindo-lhes que deitassem fora os desodorizantes e prescindissem dos frigoríficos por causa do CFC e do buraco de ozono...
ResponderEliminarE que, há uns meses, defendiam os lenços de tecido para poupar papel...
ResponderEliminarTantos "verdes" que mereciam que o 2º "t" de "tantos" fosse reciclado num "s"!
Desculpem intrometer-me... mas, em relação ao comentário das consoantes, a ordem não é mesmo nada arbitrária e requer cuidado na hipotética troca... é que, senão, pode transformá-los em santos ...
ResponderEliminarE já que se está em maré de trocas, que tal sonsos?
:))