19 agosto 2008

OS LOUCOS E OS EXCÊNTRICOS, LES UNS ET LES AUTRES

Quando Muammar al-Gaddafi promoveu o Golpe de Estado que o levou ao poder na Líbia, em 1 de Setembro de 1969, o seu novo regime foi inicialmente bastante bem acolhido pelos Estados Unidos. Lembro-me de ler um artigo muito elogioso a seu respeito nas Selecções do Reader´s Digest da época. No artigo, os elogios incidiam sobre a sua sobriedade (ao contrário dos militares golpistas africanos tradicionais, Gaddafi não se auto-promovera imediatamente ao posto de general…) e sobre a sua preocupação com o povo (qual Harun al-Raschid*, também Gaddafi tinha fama de percorrer incógnito as ruas assistindo aos oprimidos, castigando os poderosos e fazendo justiça sumária**).
Se a sobriedade se ia inspirar directamente ao exemplo de Gamal Abdel Nasser, que permaneceu coronel para o resto da sua vida na condução dos destinos do vizinho Egipto, a verdade é que os comportamentos bizarros eram bastante frequentes entre os governantes árabes da época. Para usar um exemplo engraçado, o do Koweit, foi preciso esperar pela chegada ao trono do Emir Sabah Al-Salim Al-Sabah em 1965 para que houvesse uma distinção entre o que era tesouro do monarca e o que era o Tesouro do Koweit. E adoptando uma medida para se tornar popular, o seu primeiro-ministro diminuiu em 1966 o seu salário anual de 28 para apenas 22,4 milhões de dólares…
Mas esses gestos não impediam outras proezas, como a viagem (já na década de 70) do Emir (viria a morrer em 1977), das suas mulheres e concubinas e restante comitiva num enorme Boeing 747 para irem às compras a Paris… No regresso acabaram por vir dois Boeings 747: um trazendo a comitiva, o outro, na versão cargueiro, trazendo todas as compras… Como disse acima, os governantes dos países árabes eram muito propensos a excentricidades… O que tornou Gaddafi diferente da maioria foi a renegociação que ele e o novo regime líbio impuseram às diversas companhias petrolíferas que operavam então na Líbia que culminou com a sua nacionalização em 1 de Setembro de 1973.
Trata-se de um episódio normalmente desconhecido, mas a verdade é que antecipadamente aos outros países da OPEP, a Líbia gozava de condições contratuais que os restantes países membros só vieram a adquirir depois da Crise de Outubro de 1973. Ao contrário daquilo com que estavam habituados a lidar, as grandes petrolíferas não conseguiram accionar a arma do suborno (Gaddafi nunca se mostrou venal), nem conseguiram explorar fragilidades dentro do regime que pudessem levar ao seu derrube porque Gaddafi o dominava com mão de ferro. Parece-me evidente a razão porque, em vez de ser mais um árabe excêntrico, a imagem internacional de Gaddafi passou a ser a de um louco…
É que a loucura e os pormenores pitorescos do regime líbio de Gaddafi (as tendas, as amazonas na segurança...) parecem não ter nada de semelhante com o que acontecia com o Uganda de Idi Amin, por exemplo. Por analogia, e aproveitando a fotografia acima (Gaddafi cumprimentando Sarkozy), confesso que me intriga a aura de má publicidade constante que parece rodear o presidente francês. Percebo, por um lado, que em Bruxelas não se aprecie Sarkozy por ele se mostrar muito menos complacente com as posições alemãs*** do que acontecia com o antecessor Chirac. Por outro, tenho certa dificuldade em perceber as causas de tanto noticiário negativo a seu respeito, quando em Itália existe uma figura chamada Silvio Berlusconi…
* Califa abássida do Século VIII, protagonista do livro de Contos das Mil e Uma Noites.
** Uma das histórias do artigo era a de um médico ocidental que se recusava a ver um doente a meio da noite e foi expulso da Líbia no dia seguinte.
*** Normalmente, no noticiário originário ou inspirado por Bruxelas prefere-se a expressão posições europeias...

2 comentários:

  1. Essa má aura de Sarkozy é inveja, não tem nada que saber!
    Por um lado, embora não possua um harém, tem uma mulher que é quase tão "boa como as gajas de Ermesinde"; depois, ao contrário do Emir Sabah Al-Salim Al-Sabah, não precisa de andar de Boeing para cá e para lá uma grande maçada), aturar aquele mulherio todo (imagina tu), para ir às compras a Paris, já lá está!
    Como vês o senhor é um privilegiado mesmo comparado com um Emir.
    Ora isso, não cai bem, sabes que não.

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  2. 1)Independentemente de outras considerações, uma conclusão se pode tirar: Qaddfi não é corrupto, logo é louco, pelo menos…

    2)Um amigo meu Francês de direita disse-me muitas vezes com ironia: Vais ver que o “Facho” Sarko é menos mau do que o “Escroque” Chirac. Eu ria-me, mas agora entendo-o…
    3) O Caimão pode não ser apreciado cá fora, mas, como ele próprio fiz é genial, tem metade dos italianos na mão, fez do fascista Fini um “democrata” e presidente do parlamento e do Bossi um “Italiano.

    Nota: Não aprecio esta gente.

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