03 agosto 2008

TROCAR O BOLO PELO IOGURTE

Quero desejar que entre os que lêem este blogue com regularidade haverá quem se sinta transportado para um certo passado quando eu descrever como era uma festa entre a malta quando se sabia que o lanche era bolo e iogurte… Já não sei precisar a regularidade com que isso acontecia, mas seria escassa, porque as celebrações eram entusiasmadas, quando nalgumas tardes no Colégio Militar se anunciava que o lanche iria ser verdadeira bolama!

A tradição gastronómica do Colégio Militar parece-me sólida, como todas as tradições ligadas àquela casa, mas assente em alguns mitos, como o amarelo de carne (acima - que nunca apreciei particularmente) e o arroz doce, que sempre teve uma consistência equivalente à das tradições colegiais (podia virar-se a travessa de pernas para o ar que o arroz não caía…). Mas não quero hoje tratar de gastronomia, e sim de comércio, do comércio que se gerava nesses dias em que o lanche era bolo e iogurte.
Porque se havia uma esmagadora maioria que se regalava com o bolo e o iogurte respectivo, havia sempre quem procurasse fazer trocas, especialmente trocar o iogurte pelo bolo. Como seria de esperar, dentro dessa minoria, eram muito mais os que queriam comer dois bolos do que os casos raros (bizarros?) dos que preferiam ficar com dois iogurtes. E assim, as trocas eram poucas, porque a nossa imaginação económica nada tinha dos avanços de alguns bloguistas modernos que são verdadeiros visionários.

Mas, apesar do negócio ser, logo à partida, improvável, numa demonstração de malícia imbecil, ainda havia uns patetas que o tentavam viciar, tornando a tapar o copo do iogurte depois de o comer e anunciando que estavam dispostos a trocá-lo pelo bolo. Era facilmente visível que o copo estava vazio e não creio que alguma vez alguma dessas fraudes tenha tido sucesso, o que não impedia que as tentativas se repetissem com uma regularidade pouco abonatória da inteligência dos autores.
O QI dos autores daquelas cartas que recebo no e-mail* propondo-me esquemas vários que, invariavelmente, irão fazer de mim um homem rico não deve andar longe desses meus antigos colegas de Colégio Militar. As histórias são verdadeiramente inverosímeis e pergunto-me quantos operadores daqueles esquemas haverá e quantos deles terão tido realmente sucesso em tropeçar em alguém na Internet que tivesse um QI abaixo do seu… Será o sucesso que os motiva ou, como outrora, é um exercício inócuo do que consideram inventividade?

Mais do que o gesto, chega a incomodar observar tanta estupidez…

* Como as que me anunciam que ganhei um prémio na lotaria ou que alguém quer fazer de mim seu testamenteiro como a do exemplo abaixo, recém-recebida:

I am khalid mahmoud from Bahrain,I have been diagnosed with esophageal cancer.It has defied all forms of medical treatment,I have few months to live. I havedecided to give alms to charity organizations. I cannot do this myself becauseof my health. I have Eighteen Million dollars ($18,000,000,00) with a securitycompany abroad. Can you help me collect this deposit and dispatch it to charityorganizations? You will take 20% for your assistance.I WOULD WANT YOU TO REACH ME VIA MY PRIVATE EMAIL IFYOU ARE WILLING TO ASSIST ME. ( khalidmahmoudd@hotmail.com )

5 comentários:

  1. Já habituada a ler os seus escritos...muitos dos quais reveladores do meu completo desconhecimento, outros reveladores de ângulos novos porque sempre enquadrados de forma original, há um denominador comum no que normalmente sinto e que me parece que a seguinte frase sintetisa: "Der Weg ist der Umweg" (espero que esteja bem escrito pq estou a escrever ao correr da pena(?)tecla.
    :)

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  2. E será que os ditos tem o cartão do Bes? Já agora...

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  3. A frase está bem escrita, Maria do Sol, não a conhecia, e considero-a uma síntese muito feliz do que por aqui vou escrevendo.

    Quanto ao cartão do BES, JRD, suponho que aqui a artimanha é mais crua, eles nem lhe dão nada para a mão, apenas prometem que vão dar. O objectivo é que deve ser o mesmo, em cash, e o seu...

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  4. Lembro-me bem desses tempos de economia directa, agora que também sou contemplado com escolhas mírificas por parte de espertos não saloios mas de climas bem mais tropicais. Com a tua inspiração fazias um bom romance sobre os tempos do Colégio de 1972 até final dessa década. Ousa!
    MFA

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  5. É o tipo de obra que considero que não tem qualquer interesse, nem editorial nem, deixa-me dizer-to, pessoal.

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