10 julho 2008

WAR GAMES

Wargames é um filme de 1983 que conta a história de um adolescente (David - Matthew Broderick) de uma família americana de classe média típica que adora jogar jogos de computador, é um hacker (é uma das primeiras referências populares à actividade) e que, por causa disso, entra no supercomputador que gere o sistema de defesa dos mísseis intercontinentais (ICBM) armados com ogivas nucleares dos Estados Unidos. E quase se consegue adivinhar o enredo da confusão que se gera a partir daí…
Sendo engraçado, o filme não é grande coisa. Está datado (do período da Guerra-Fria), as personagens são de um maniqueísmo cru (os bons e os maus) e possui retoques que o tornam norte-americano em excesso, como será o caso do enaltecimento do valor da especialização profissional. O herói passa por ser de uma mediocridade em todos os outros campos do saber mas beira a genialidade quanto o assunto tem a ver com computadores e é isso que o vai safando: altera as notas da caderneta electrónica…
O que pretendo destacar neste poste é uma das cenas cómicas (falhadas) desse filme, quando, numa aula de ciências naturais, o professor (previamente definido como um antipático) pergunta Quem foi a primeira pessoa a sugerir a ideia da reprodução assexuada? e o herói David se vê forçado a assumir o papel do engraçadinho da turma, respondendo ao professor com a sugestão: A sua mulher?... Tem piada, mas trata-se do tipo de humor irónico fino que dificilmente teria saído da mente de um adolescente obcecado…
A política portuguesa já teve muitos momentos semelhantes, em que o script põe o jovem protagonista político a proferir declarações que não pertencem às pessoas com a sua maturidade e da sua geração. Nunca deveria ser esquecido o episódio ridículo de Manuel Monteiro, então com cerca de 30 anos e o dirigente mais novo de qualquer dos quatro grandes partidos portugueses, a empregar numa entrevista televisiva a expressão no meu tempo (é que era bom...), com uma eloquência parecida com a de um ex-quadro da ANP*…
Mas se Monteiro, apesar dos esforços em o promover em certos média, hoje não passa de uma memória, as caras jovens que o PCP costuma enviar à televisão (a mais vista tem sido a de Bernardino Soares, acima) são uma garantia de que o anacronismo de pôr uma geração a falar por outra permanece vivo. Outras organizações esclerosadas, como é o caso da Igreja Católica, costumavam apelar a encenações de demonstração do seu auto-rejuvenescimento em cerimónias do estilo Os jovens com o Papa
No PCP, como se pode ver pelo exemplo da fotografia acima do jovem Jorge Cordeiro (que juraríamos ter participado no XX Congresso do PCUS de 1956), será mais na linha Os jovens com(o) o Papa… Simplesmente, se a ideia geral parece ser a de transmitir uma imagem de juventude e o PCP continua a ser um partido dinâmico e progressivo, creio que as últimas proezas da ciência permitirão que, em vez aparecerem os jovens sendo como o Papa, possa continuar a aparecer o Papa, sendo como os jovens
Que tal submeter Jerónimo de Sousa a um daqueles eXtreme makeovers de rejuvenescimento?

* Acção Nacional Popular: partido único do período de Marcelo Caetano (1968-74).

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