21 julho 2008

MARX, ENGELS, LENIN, STALINE E… MANDELA?

A propósito de um poste que aqui inseri no passado dia 18 e de vários comentários a ele entretanto feitos, achei que seria preferível condensar tudo o que se me oferece dizer sobre o assunto num poste:
Não sei qual será a data do aniversário de Vítor Dias, mas suponho que os leitores achariam datado e despropositado que eu começasse por ilustrar um eventual voto de felicitações que lhe dedicasse com a fotografia de um cartaz do MDP/CDE de 1974 ou 75 (acima), daqueles tempos em que, segundo creio, o hipotético aniversariante, então jovem quadro do PCP, teria estado em comissão de serviço a desempenhar funções de dirigente nacional daquela organização, tarefa então vulgarmente designada pelos adversários políticos com o desprestigiante epíteto de submarino. Não só porque o episódio retratado terá um efeito redutor de todo o percurso político posterior de Vítor Dias, mas também porque ele está definitivamente datado, de uma fase da sua vida.
Peço-lhe desculpa por esta maldade que lhe fiz, mas talvez assim Vítor Dias consiga perceber qual será a importância da escolha da imagem inicial que se adopte para encimar um texto sobre um determinado assunto. Foi assim que considero que ele fez com Mandela. Talvez para me penitenciar, inseri esta segunda fotografia, com Winnie e Nelson Mandela e Joe Slovo (que era à época o secretário-geral do SACP*), todos de punho erguido, mais a estrela, a foice e o martelo em fundo. Embora o ar dos Mandelas pudesse ser um pouco mais entusiasmado, até a mim me apeteceria partir daquela fotografia para dissertar sobre as enormes contribuições – se elas tivessem existido – de Mandela para o marxismo-leninismo, emparelhando-o com os quatro heróis do costume** e justificando o titulo do poste
Quanto ao conteúdo do pretenso comentário-resposta que Vítor Dias inseriu no seu poste em resposta ao que aqui escrevi, tem efeitos especiais de mais e matéria de facto de menos para que mereça uma resposta no corpo principal do poste***. Muito pelo contrário, vale a pena ler a argumentação apresentada por António Vilarigues (ou por alguém que usará o mesmo pseudónimo) na caixa de comentários (é o 11º) do meu poste, sobre a questão da associação entre o ANC e o SACP. Factos e só factos, escreveu (e bem) António Vilarigues. No direito anglo-saxónico fazem-se as testemunhas jurar em tribunal que contem a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade. Aqui também, convém que sejam os factos, só os factos, mas todos os factos e nada mais que os factos…
Além da presença, correctamente referida por António Vilarigues, do SACP nas áreas do poder, convém analisar de forma objectiva quais têm sido as consequências e os benefícios para a esquerda resultantes dessa presença do partido na área do poder na África do Sul desde 1994… Onde é que se poderão encontrar as influências ideológicas do marxismo-leninismo da Constituição sul-africana de 1996? A África do Sul não continua a ser um país capitalista? Em suma, a relevância ideológica do SACP na África do Sul de hoje parece-me ser diminuta e, perdoem-me a conclusão, mas isto das simpatias comunistas sem qualquer afinidade ideológica está a tornar o internacionalismo proletário perigosamente parecido com o Rotary Club
* South African Communist Party (Partido Comunista Sul-Africano).
** Para os camaradas maoistas seriam os cinco heróis do costume...
*** Vítor Dias parece não reparar que há diferença entre implicar com uma fotografia e implicar com quem teve o critério de a escolher para encimar um texto.
Parece não saber encimar significa apenas isso, colocar em cima, dar destaque. Se, segundo a sua acusação, eu pretendesse escamotear que Vítor Dias tinha utilizado outras fotografias para o ilustrar porque teria feito directamente uma ligação para que o leitor fosse ver o seu poste?
Quanto ao assunto da importância da libertação de Mandela lembro a Vítor Dias que muita gente foi libertada depois de décadas de prisão por delitos de opinião (dissidentes soviéticos também…) e não possuem nem uma fracção da popularidade de Mandela. Ao contrário, Ghandi não precisou dos 27 anos de prisão para adquirir a sua.
Será que Vítor Dias não percebeu mesmo que a técnica de apagar das fotografias os caídos em desgraça é apenas o exemplo mais cretino de tentar reconstruir o passado que se tornou tão típico daqelas organizações: quererá o Vítor Dias apostar comigo que, sem ser por descuido, não encontrará nenhuma menção na documentação oficial do seu partido ao nome de um militante destacado que entretanto o tenha abandonado?
E, claro, suspeito nem pela sua cabeça lhe passará pôr a hipótese que o fim da guerra-fria e a verdadeira pressão política e económica das potências ocidentais sobre o regime do apartheid fizeram aquilo que o que classifica de 27 anos de solidariedade da esquerda não puderam fazer.

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