06 julho 2008

CORTE REAL, RECUS PARA OS AMIGOS

Esta coisa dos apelidos com hífen, que me parece recentemente recuperada para a ribalta, notavelmente através da jovem promessa ou da arma secreta do PSD que dá pelo nome de José Pedro Aguiar-Branco, fez-me voltar ao passado, a outras modas diferentes para apelidos, quando o que era chique era grafá-lo pelas regras ortográficas de antanho, o que fizera, por exemplo, com que o Estádio do Restelo fosse baptizado como Estádio Almirante Américo Thomaz.
O paradoxo é que essa moda requintada coexistia com rígidas regras militares que mandavam identificar documentalmente, no caso do Colégio Militar onde andava, o aluno pelo número e pelo apelido (UM). E o sargento da secretaria que batia todos aqueles documentos à máquina (era a tecnologia da época…) mostrava-se insensível às subtilezas dos herdeiros de apelidos duplos e rebuscados. Era o caso de um camarada meu que aparecia identificado no Quadro de Honra na forma 999 – Real*, quando o seu apelido era Corte Real (sem hífen, creio...).
A parte engraçada disto, não fossemos todos nós na altura jovens e despretensiosos, é que o Corte Real tinha uma alcunha de cariz muito pouco aristocrático, Recus, inspirada, segundo recordo, no nome de um porquinho que aparecera em circunstâncias que já esqueci. E era por Recus que ele era tratado. Ora, cada vez que vejo aqueles hífens, não deixo de conjecturar se o Branco (o sargento da secretaria era mesmo implacável a trinchar apelidos sonantes…) também não poderia ter tido assim uma alcunha gira…
* Por discrição (óbvia) não utilizei o número dele (não era 999).

Nota: Ainda a propósito de Aguiar-Branco mais os companheiros que se dispuseram a clarificar o conteúdo da intervenção televisiva da presidente do PSD na passada Terça-Feira, vale a pena dar realce ao artigo sobre a unidade europeia de José Pacheco Pereira no Público de Sábado.

4 comentários:

  1. Quando eu preenchia a minha inscrição para participar num encontro internacional de caracter profissional, ocorreu-me que iria ser tratado por António Pinto, o que não correspondia ao meu nome profissional Antonio Marques Pinto, sendo que isso tinha alguma importância na circunstância. Foi então que a minha estimada chefe me sugeriu que escrevesse Marques-Pinto para que estes dois nomes ficassem sempre associados. E assim passei a fazer ali e onde quer que identificam as pessoas pelo primeiro e último nome. Simples expediente prático. Eu que tinha o mesmo preconceito contra o aspecto pretencioso do uso do hífen. Tá a ver? Como diria Lenine: Aprender, aprender, aprender sempre! (Em russo, claro).

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  2. Pois bem, meu caro António Marques-Pinto, embora pense que foi uma excelente solução, permita-me a especulação como a sua atitude não foi a atitude de um verdadeiro bolchevique, pois Lenine nunca aceitaria deixar-se tratar interna ou internacionalmente por Vladimir Ilyich-Ulyanov…

    Aliás, com excepção de Antonov-Ovseenko não me recordo de qualquer outro grande dirigente bolchevique que recorresse ao hífen, antes eram quase todos da “escola” da alcunha pura de Lenine (e do meu amigo Recus): Staline, Trotsky, Kamenev, Zinoviev, Molotov, Litvinov…

    Outra solução também canonicamente bolchevique teria sido fazer-se tratar por A.M. Pinto, tal como se empregava V.I. Lenin ou I.V. Staline…

    Agora mais a sério, assim como o centralismo não deixava de ser centralismo só por se acrescentar o adjectivo democrático, também o pedantismo não deixa de ser pedantismo apenas por ser praticado por revolucionários…

    Учиться, учиться, всегда учиться

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  3. (Peço desculpa mas estou com dificuldades em comentar, deve ser da distância...)
    -Só para dizer que o Alberto-João tinha razão quando dizia que os meninos-bem do Porto estavam a aburguesar o PPD-PSD -com hífen-.

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  4. Boas Férias, JRD! Nota-se que estão a ser retemperadoras e estão fazê-lo recuperar energias pela força com que deve carregar na tecla ENTER e inserir 3 comentários de uma só vez...

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