01 agosto 2014

UMA BOA NOTÍCIA

Mesmo antes de se conhecer qual o pelouro que virá a ocupar, considero esta escolha de Carlos Moedas para o cargo de comissário europeu uma boa notícia. Suponho que haverá quem se lamente que o próximo representante português na comissão seja o arquétipo de uma linha negocial submissa aos interesses exteriores. Concordaria com o lamento se considerasse detectar dentro das estruturas europeias uma preocupação reformista provocada pelas eleições que elegeram um bloco de 30% de eurodeputados que, invocando pretextos nacionais diversos, se opõem das formas mais variadas ao actual figurino da União Europeia. Mas as vitórias, ainda que moderadas mas mediaticamente exuberantes, da FN em França ou do UKIP no Reino Unido parecem ter sido menorizadas se atentarmos à coreografia que temos visto associada à formação da nova comissão Juncker. Finge-se não perceber que as principais fronteiras da confrontação política entre os países-membros e as formações do parlamento europeu terão deixado de ser dentro do sistema entretanto erigido para incluírem o próprio sistema. Assim sendo, não vale a pena investir em Bruxelas enquanto no Berlaymont não se aperceberem que há uma enorme crise de confiança dos povos na construção europeia. Por eles, afigura-se que a coisa até funcionaria por inércia, sem consultas à vontade dos povos. Entretanto, enquanto a casa não vem abaixo de uma forma que se deseja não torne impossível a sua reconstrução em moldes mais apropriados, a memória consola-nos sempre com a lembrança de excelentes comissários indicados por Portugal (abaixo, um deles, João de Deus Pinheiro) com pelouros importantíssimos¹, que a nossa comunicação social sempre nos informou terem desenvolvido um trabalho notável… Um desafio apropriado para Carlos Moedas: ele merece e nós também merecemos mandá-lo para Bruxelas, para descansarmos dele. E do susto da hipótese de o vermos a sobraçar a pasta das Finanças.
¹ O retratado João de Deus Pinheiro ocupou, por exemplo, os importantes portfolios das Relações com o Parlamento, a Cultura e o Audiovisual (1993-95) e seguidamente o das Relações com os países de África, Caraíbas e Pacífico (1995-99).

1 comentário:

  1. Excelente.
    Se a Comissão Europeia não é um assunto sério (e não é!) quaisquer moedas servem perfeitamente.

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